Calama é uma cidade mineira sem grande graça. O primeiro choque que temos
ao chegar ao Chile é que os preços são praticamente o triplo do que praticam nos
países mais a Norte da América do Sul e Central. E nesta parte do país não se
percebe a razão porque restaurantes e hotéis não são melhores em qualidade.
Pensei em arrancar logo para Sul pela Pan Americana através do deserto mas
recomendaram-me que visitasse S. Pedro de Atacama e arredores. Como parecia ser
um desvio de apenas cem quilómetros decidi ir até lá. Pelo caminho vi um tipo
parado numa KTM e dei meia volta par ver se precisava de ajuda. Era um
Canadiano que tinha vindo cá a baixo e voltava rapidamente para o Canadá, por
ter trabalho. Indicou-me um Hostel, bom e barato no meio do deserto onde tinha
ficado essa noite.
Antes de entrar em S. Pedro fui visitar o que chamam Vale de la Luna uma
parte do deserto com uma paisagem espectacular. É dos locais mais secos da
terra com zonas onde não chove há centenas de anos. Cientistas testaram ali o
veículo que pretendem usar em Marte.
O GPS do telemóvel mandou-me por uma estrada de terra que estava cortada e
só depois de voltar à estrada principal vi a entrada utilizada ultimamente. Aquela
hora o parque estava praticamente deserto. Estacionei a moto junto ao que
chamam o Anfiteatro e fui visitar o local a pé. Pensei que era uma passeio de
dez minutos mas passados três quartos de hora constatei que estava perdido no
deserto e, para mais, tinha deixado a água na moto. A andar, com as botas, pela
areia fiquei estafado mas, felizmente, pouco depois, do alto de uma ravina,
pude ver a moto lá em baixo. Quando cheguei junto da moto encontrei três
rapazes e duas raparigas que para ali tinham ido de bicicleta e estavam
desesperados porque se lhes tinha acabado a água. Pediram se eu dizia aos
guardas da entrada, a oito quilómetros de ali, que lhes fossem levar água mas
como estes não a tivessem fui até uma aldeia, a meia dúzia de quilómetros,
comprar água. Quando voltei já não os encontrei. Teriam arranjado boleia de
alguma carrinha que os levou de volta com as bicicletas.
Parti almoçar em S. Pedro e segui para a espécie de Hostal recomendado pelo
Canadiano, dois ou três quilómetros fora da vila. Uma pequena quinta onde a
caldeira de água quente era uma fornalha de ferro ferrugento em frente de casa,
alimentada a lenha, que dava a sensação ir explodir a qualquer momento. Mas funcionou
bem e no silencio do deserto dormi que nem um anjo.
No dia seguinte parti a visitar as lagoas de Miniques e Miscanti que
pensava serem a quarenta ou cinquenta quilómetros mas eram a 120. A meio
caminho dei conta do mau cálculo e constatei que não só não tinha gasolina para
lá chegar como nem sequer dava para regressar a S. Pedro de Atacama, único
lugar num circulo de 200 Km com bomba de gasolina. Entrei então numa aldeia,
das que só têm ruas em terra e perguntei se alguém teria gasolina. Acabaram por
me enviar a um mini mercado onde uma menina me vendeu 10 litros em dois
garrafões de plástico que resolveram a situação. As lagoas são lindas, com
vulcões de glaciares no topo, por trás.
Nesse mesmo dia fiz o caminho de volta a Calama e segui para Sul até
Antofagasta, uma cidade junto à costa já mais atractiva. Começava a entrar no
Chile que justificava um pouco os preços exagerados que ali se praticam.
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