Quando saí do
ferry vindo da ilha de Flores para Kupang, em Timor Ocidental, eram duas da
manhã. Ainda hesitei em arrancar logo a caminho da fronteira com Timor Leste
mas na pequena cidade onde desembarquei haviam vários grupos de jovens com
muito mau aspecto que me chamavam quando eu passava e aquela hora, sem nada
para fazerem, tinham ar de quem procurava problemas.
Por outro lado,
sem acesso à internet nos últimos dois dias não tinha anotado o nome das
cidades por onde teria que passar pelo que mais uma vez teria que me guiar pela
bússola do iphone, visto que o GPS deixou de trabalhar há uns dias. E ainda
eram duas da manhã pelo que teria três horas
e meia de circulação à noite que eu tento sempre evitar, pelos perigos
que envolve. Além disso também tinha dormido mal e pouco no barco, com aqueles
dois homens praticamente na minha cama, um de cada lado.
Por sorte, ao
atravessar a cidade, passei por um Hotel que tinha a porta aberta de maneira
que fiquei por ali a dormir mais umas horas.
Acordei perto das
oito da manhã mas depois de tomar um duche e o pequeno almoço fui pôr os mails
em dia e verificar o trajeto que teria que efetuar até Dili. Acabei por deixar
o Hotel só às onze da manhã.
A estrada até
perto da fronteira, cerca de 300 Km, era melhor do que eu estava à espera
embora com algumas zonas onde o alcatrão tinha abatido, provocando lombas que
por duas vezes me fizeram a mala esquerda, a tal que tem um suporte partido,
saltar dum dos outros dois apoios, ficando a roçar no pneu.
Quando estamos
perto da fronteira temos a ultima cidade Indonésia, Atambua e depois 30 Km de
uma estrada em muito mau estado. Pensei que só me podia ter enganado e por três
vezes parei para perguntar se aquela estrada era a única entre Timor Ocidental
e Oriental. Confirmaram-me que sim e segui caminho. Ás tantas a estrada tinha
abatido com as chuvas e a faixa de alcatrão resumia-se a uma pequena passagem
para motos.
Cheguei à parte
Indonésia da fronteira às quatro da tarde e informaram-me que já não seria
possível passar pois em Timor Leste era mais uma hora e a fronteira fechava à
cinco.
Perguntei se na
aldeia não haveria um sítio onde pudesse ficar, uma pensão ou alguém que
alugasse um quarto até porque nessa altura começou a chover e a estrada de
volta para a cidade estaria ainda pior.
Disseram-me que
não mas o chefe de alfândega acabou por me perguntar se eu não queria ficar a
dormir no sofá da messe dos funcionários da alfândega, mesmo ali ao lado.
Aceitei a sugestão e arrumei a moto num barracão que me indicaram. Nesse
momento a chuva aumentou muito de intensidade.
Instalei-me na
messe, sozinho, pois os guardas partiram para casa. Passado um bocado apareceu
um, de camuflado, a dizer que eu ali não estaria bem e se não preferia ir
dormir à camarata dos militares, que me arranjava um colchão. Concordei e
levou-me falar com o chefe que acabou por sugerir eu ficar num colchão no
escritório dele. Fui a uma pequena loja local comprar mais uma daquelas
embalagens com esparguete instantâneo e tofu que tinha sido também o meu almoço
e jantar do dia anterior e por ali fiquei a dormir. Às seis da manhã o chefe já
estava no escritório e acordei com ele a traçar linhas num mapa com os pontos a
controlar na fronteira terrestre.
Levantei-me,
agradeci a estadia e voltei para a messe ler, porque a fronteira só abria às
oito.
Quando passei
para o lado de Timor Leste os guardas pareciam crianças, divertidos a praticar
o seu português.
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