5 de janeiro de 2015

West Timor



Quando saí do ferry vindo da ilha de Flores para Kupang, em Timor Ocidental, eram duas da manhã. Ainda hesitei em arrancar logo a caminho da fronteira com Timor Leste mas na pequena cidade onde desembarquei haviam vários grupos de jovens com muito mau aspecto que me chamavam quando eu passava e aquela hora, sem nada para fazerem, tinham ar de quem procurava problemas.
Por outro lado, sem acesso à internet nos últimos dois dias não tinha anotado o nome das cidades por onde teria que passar pelo que mais uma vez teria que me guiar pela bússola do iphone, visto que o GPS deixou de trabalhar há uns dias. E ainda eram duas da manhã pelo que teria três horas  e meia de circulação à noite que eu tento sempre evitar, pelos perigos que envolve. Além disso também tinha dormido mal e pouco no barco, com aqueles dois homens praticamente na minha cama, um de cada lado.
Por sorte, ao atravessar a cidade, passei por um Hotel que tinha a porta aberta de maneira que fiquei por ali a dormir mais umas horas.
Acordei perto das oito da manhã mas depois de tomar um duche e o pequeno almoço fui pôr os mails em dia e verificar o trajeto que teria que efetuar até Dili. Acabei por deixar o Hotel só às onze da manhã.
A estrada até perto da fronteira, cerca de 300 Km, era melhor do que eu estava à espera embora com algumas zonas onde o alcatrão tinha abatido, provocando lombas que por duas vezes me fizeram a mala esquerda, a tal que tem um suporte partido, saltar dum dos outros dois apoios, ficando a roçar no pneu.
Quando estamos perto da fronteira temos a ultima cidade Indonésia, Atambua e depois 30 Km de uma estrada em muito mau estado. Pensei que só me podia ter enganado e por três vezes parei para perguntar se aquela estrada era a única entre Timor Ocidental e Oriental. Confirmaram-me que sim e segui caminho. Ás tantas a estrada tinha abatido com as chuvas e a faixa de alcatrão resumia-se a uma pequena passagem para motos.
Cheguei à parte Indonésia da fronteira às quatro da tarde e informaram-me que já não seria possível passar pois em Timor Leste era mais uma hora e a fronteira fechava à cinco.
Perguntei se na aldeia não haveria um sítio onde pudesse ficar, uma pensão ou alguém que alugasse um quarto até porque nessa altura começou a chover e a estrada de volta para a cidade estaria ainda pior.
Disseram-me que não mas o chefe de alfândega acabou por me perguntar se eu não queria ficar a dormir no sofá da messe dos funcionários da alfândega, mesmo ali ao lado. Aceitei a sugestão e arrumei a moto num barracão que me indicaram. Nesse momento a chuva aumentou muito de intensidade.
Instalei-me na messe, sozinho, pois os guardas partiram para casa. Passado um bocado apareceu um, de camuflado, a dizer que eu ali não estaria bem e se não preferia ir dormir à camarata dos militares, que me arranjava um colchão. Concordei e levou-me falar com o chefe que acabou por sugerir eu ficar num colchão no escritório dele. Fui a uma pequena loja local comprar mais uma daquelas embalagens com esparguete instantâneo e tofu que tinha sido também o meu almoço e jantar do dia anterior e por ali fiquei a dormir. Às seis da manhã o chefe já estava no escritório e acordei com ele a traçar linhas num mapa com os pontos a controlar na fronteira terrestre.
Levantei-me, agradeci a estadia e voltei para a messe ler, porque a fronteira só abria às oito.
Quando passei para o lado de Timor Leste os guardas pareciam crianças, divertidos a praticar o seu português.

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