16 de novembro de 2012

16 Novembro - Erzurum 2

Quando cheguei ontem a Erzurum, fui direito ao consulado iraniano. Já me tinham dito que são homens difíceis, que não dão vistos a qualquer um. À noite o dono do Hotel contou-me que tinha cá tido um Inglês o mês passado que ficou dez dias à espera do visto e no fim . . . não lho deram. Também percebe-se, era bife. Nós pelo menos nunca ameaçámos que bombardeávamos Teerão, não fossem eles responder à ameaça e tínhamos todos que fugir para Espanha. A porta está fechada e demoram a atender a campainha. Finalmente entrei. Sou recebido por um homem que me pergunta se já tenho o código.
- Não.
Qual código?
- Não tem código? Disse com ar espantado. Tem que ter um numero de código.
- E como obtenho esse numero de código?
Escreveu-me o nome de um site governamental num papel rasgado e disse para me inscrever lá que passados três dias me dariam um código.
- Três dias??? Só para ter o código? E depois?
- Depois vem aqui e eu trato-lhe do visto.
Fui resignado procurar um Hotel para chegar à internet. Não se conseguia entrar no site. Depois de muito rebuscar consegui abrir um parecido, mas estava escrito em árabe. Voltei para a reabertura das duas e meia. Um miúdo alemão com bom aspecto mas com a sujidade de andar de mochila às costas a acampar pelos cantos, esperava pelo seu visto. Estava há três dias à volta do processo mas a ele não tinham pedido código. Disseram-lhe para voltar às cinco. Ele, sem nada que fazer até às cinco, pediu se podia esperar ali que estava frio na rua. Responderam que sim e passados cinco minutos apareceram com o passaporte dele com o visto. O miúdo parecia ter ganho a lotaria. Anda há dois meses à boleia e já tinha estado na fronteira mas mandaram-no aqui de volta tratar do visto. Contou que só podia pedir boleia de dia porque quando fica noite param homens a perguntar: “do you want to have sex”?
Quando fui atendido expliquei que não tinha conseguido entrar no site. O homem mandou-me esperar e desapareceu durante meia hora. Surgiu depois para me dizer que o Cônsul ia falar comigo. Comecei a ver o caso mal parado. Esperei mais meia hora numa sala com meia dúzia de cadeiras vazias sob o olhar de uma câmara. Fiz um ar de santinho de esquerda porque achei que estava a ser observado pelo cônsul. Penso que o tempo de espera também faz parte do processo de avaliação dos candidatos. O empregado do consulado deve estar lá dentro com o cônsul a olharem para o ecrã com as imagens da sala e perguntar: - Sr. Cônsul, acha que este já esperou tempo suficiente? Se ainda não se foi embora quer dizer que quer mesmo ir lá ao Irão. Ao que o cônsul responde:
- Não. Aguenta mais um bocadinho para ver se o homem está mesmo empenhado em lá ir.
Por fim lá voltou a surgir de lá de dentro e passou-me um telefone dos ainda com fio. Do outro lado a voz rouca e calma do Cônsul.
- Yes?
- Contei-lhe o meu esforço inglório para obter o famoso código. Pareceu compreensivo. Perguntou-me de onde era, o que fazia, etc. Não me perguntou a cor dos olhos porque já devia saber. Achei que aquela câmara, enquanto me filmava, estava a fazer uma busca na internet. Já deviam saber se tinha chorado quando nasci. Finalmente mandou-me lá voltar hoje às nove com uma promessa de visto.
Sempre que me levanto cedo o dia começa mal. Ontem à noite o dono do Hotel, que fica no centro da cidade, tinha-me dito para pôr a moto na entrada, um corredor estreito antes de uma escada que dá para a recepção no primeiro andar. Aquilo tinha um degrau alto e eu hesitei mas, perante a insistência do homem, que a moto ficava mais segura ali, lá a coloquei no corredor. Hoje de manhã, para a tirar, desci o alto degrau com a moto à mão e . . . patapum, motorizada no chão contra o letreiro luminoso do Hotel, que se desfez em cacos. A moto só partiu a proteção do punho do lado direito. Como a do lado esquerdo já estava partida ficou equilibrada.
Lá fui ao consulado. Mandaram-me preencher um papel, trazer duas fotografias e uma prova de depósito na conta deles de 75 euros. Nem dólares, nem liras turcas ou moeda iraniana. Euros, em “cash”. Por caso ainda tinha. Ao fim da manhã fui entregar a papelada e às cinco recolher o passaporte já com o famoso visto. Huf.

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