13 de novembro de 2012

13 Novembro

Erzingan

Ontem à noite fiquei numa pequena cidade de província, que não são nada atrativas, e hoje arranquei pelas onze da manhã rumo a Oriente. O céu estava pouco nublado e a temperatura mais estável que ontem, entre os 8 e os 12º que, com o fato da Sidi, é agradável. A estrada era em piso que variava entre o bom e o razoável, com grandes rectas e muito pouco movimento. Talvez por a gasolina aqu
i ser das mais caras de europa, perto de dois euros por litro, e a população ter pouco poder de compra, a maioria dos turcos deve viajar em transportes públicos e reservam os carros só para circular em cidade.



Não sendo produtores de petróleo têm que o comprar aos vizinhos árabes e como o governo tem feito um esforço para se aproximar do Ocidente, chegando ao ponto de quererem insistentemente entrar para a Comunidade Europeia, quando só 30% do seu território é na Europa, os Iranianos e outros vizinhos não devem gostar da atitude e vendem-lhes o petróleo mais caro, mesmo se ele é aqui refinado.



Circulo largas dezenas de quilómetros a cruzar-me com meia dúzia de carros numa paisagem muito árida de pequenas elevações. Algumas vilas pelo caminho sempre com a imprescindível Mesquita com duas torres altas e estreitas de onde antes o imã local devia gritar para a população as rezas constantes, agora transmitidas através de potentes altifalantes que, nas cidades que têm duas ou três Mesquitas fazem concorrência entre si na captação de fiéis. Aliás não devem ter falta de clientes porque 97% da população é muçulmana e a maioria parece praticante assíduo. Também nestas pequenas vilas não deve haver melhor programa do que ir até à Mesquita rezar um pouco. No Hotel em que estou agora estava até um pequeno tapete dobrado em cima da mesa, do tipo tapete Persa individual feito na China, com uma espécie de terço deles por cima para se eu quisesse rezar quando ouvisse a voz do Imã nos altifalantes da Mesquita. O terço é diferente do dos católicos pois quase todas as contas são idênticas e estão juntas. Não me admira porque a reza deles parece-me muito repetitiva. Não têm aquela coisa de rezarem 10 Avé Marias e depois um Glória a Deus seguido de um Pai Nosso, etc. Aqui é sempre abdaluuuuuuuu la luuuuuu la luuuuuuu abdaluuuuuu.



Almocei num restaurante simpático e giro, saído do nada, com um carocha pendurado na entrada, e fiquei um pouco a ler ao sol antes de arrancar, para meia dúzia de quilómetros depois ser apanhado por um radar, que ali devia estar só para mim. Ainda pensei que como naquela parte do país a vida era mais barata as multas acompanhassem o nível de vida mas não. 154 Coroas turcas, ou seja 70 das nossas. Não veio nada a calhar.


Quando chegou o fim da tarde parei na primeira vila que encontrei para procurar um Hotel. A povoação tinha um ar sinistro mas entrei até à praça principal e única, com o pavimento escavacado, depois de atravessar uma ponte sobre um rio muito poluído a passar ao lado de prédios decrépitos a rodearem um supermercado novo. Quase toda a vila parou para ver este homem de moto com um fato estranho. Aliás não me admira porque a única moto que vi nos últimos três dias foi a minha. Voltei a ter uma conversa que já se tornou habitual. Quando eu pergunto: “Do you speak English?” respondem-me invariavelmente “No. Do you speak Turkish?” E por ali ficamos.



Perguntei a um rapaz por um Hotel que por acaso se diz Otel em Turco, e ele apontou-me um prédio com a largura de cinco metros na eminência de cair. De início pensei que estava a gozar mas logo surgiu um velho que perguntou: “Hotel?” E pôs-se a correr à frente da moto a fazer sinal para o seguir. Segui-o sem nenhuma vontade até um beco em terra batida polida por óleo e lixo calcados até às traseiras do dito prédio. Agradeci-lhe muito mas para seu desconsolo dei meia volta e voltei à estrada. Ficou noite e entrei numa serra onde a temperatura baixou para os 5º, que é o limite do desconfortável, mesmo com o aquecimento dos punhos ligado. Para agravar a situação a estrada a meio estava em obras e passei para uma estrada de terra, felizmente só por dois quilómetros. 70 Km depois cheguei a uma cidade mais decente e encontrei um Hotel possível, com tapete de reza e terço muçulmano à minha disposição, em vez da habitual Bíblia.

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