Na manhã seguinte, surpreendentemente, o troço de estrada que me tinham dito estar em pior estado, estava alcatroado de novo e pude percorrer os 130 Km em hora e meia, parando uma ou outra vez para fotografar a exuberante paisagem da floresta amazónica ou um bando de abutres a deliciarem-se com a carcaça de um animal.
Cheguei a Muritituba pelas onze da manhã e entrei directamente na barcaça que estava no cais, com um dos homens a dizer-me para estacionar a moto dentro e ir ao guichet de entrada comprar o bilhete para atravessar o rio Tapajós, um afluente do Amazonas, já com a largura do rio Tejo na foz.
O equivalente a dois euros, a travessia de 15 minutos para mim com a moto, onde a balsa é empurrada por um rebocador, que encaixa a frente numa travessa própria lateral.
Cheguei a Itaituba e dei uma volta pela pequena cidade antes de ir lavar a moto, coberta de lama.
No Hotel Sonho, à beira rio, duas miúdas giras entretinham um cliente de “T” shirt e boné na esplanada. Perguntei ao miúdo que lavava a moto se era bom aquele Hotel.
- Não se meta com elas, respondeu ele, sábio. Isto é terra de garimpeiros. O último que aí apareceu bebeu lá uns copos e exibiu às raparigas duas pepitas de ouro que trazia consigo. Quando acordou estava trancado no quarto e tinha desaparecido o ouro e tudo o resto que pudesse ter algum valor.
Almocei num dos típicos self service que têm aqui pelo Norte e onde a maioria dos clientes mistura carne de vaca com frango, arroz, espaguete, batata e salada, por o equivalente a três euros, mais dois para o meu habitual sumo de maracujá.
Fui depois ao porto onde me tinham dito que sairia essa tarde o último barco da semana para Santarém, o porto do Amazonas onde chegam os enormes cargueiros que vêm encher os tanques de soja, rumo ao Atlântico.
O pequeno barco, dos seus 30 ou 40 metros, era o típico dos que vemos nos filmes dos anos sessenta. Fazia até lembrar os velhos barcos a vapor mas sem a enorme roda traseira. Pintado de amarelo e branco o S. Luis tinha dois andares, com uma parte de baixo onde seguia a carga e parte dos passageiros, e um deck superior, os dois abertos lateralmente aos elementos, em terras onde nunca faz frio. Para proteger os passageiros da chuva lonas laterais que se desenrolam.
A viagem até Santarém dura perto de vinte horas, incluindo a paragem em uma ou outra aldeia à beira rio.
Os cerca de 30 passageiros estendem cada um a sua rede nos dois convés, que se transformam rapidamente num quadro multicolor de redes cruzadas.
Negociei o preço com o comandante sem discutir muito pois não tinha alternativa aquele transporte.
- Mas eu não tenho rede onde dormir.
- Não tem problema. Eu empresto-lhe a minha, respondeu o comandante, ordenando a um dos marinheiros que a fosse estender no andar de cima, mais confortável por não se ouvir tanto o barulho do motor.
Carregámos a moto e, pelas quatro da tarde deixámos o porto rio abaixo.
Grande Xico, diverte-te o mais que puderes, tem cuidado e diverte-nos com as tuas crónicas. Grande abraço
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