Naquela tarde segui tranquilamente até Nova Mutum por uma estrada razoável e alguns pequenos troços de auto-estrada. O problema foram os dias seguintes. No mapa que tinha comprado do Brasil, a partir de certo ponto, a estrada vinha assinalada como sendo de terra mas tinham-me dito que a maior parte já estaria alcatroada. Na realidade o alcatrão está em péssimo estado, com enormes crateras onde, como me avisou um camionista, “cabe lá a sua moto dentro”.
Mas antes passamos por impressionantes plantações de soja e algodão, em fazendas que se estendem por dezenas de quilómetros. Agora é altura da colheita de soja e, na mesma terra passam a plantar algodão ou milho, fazendo render aqueles férteis milhares de hectares de campo.
Os camiões carregam a soja e milho e levam-no ou para Cuiabá, para ser distribuído pelo Sul do país, ou para os portos do Amazonas e afluentes, de onde o cereal segue em balsas rio abaixo até à cidade de Santarém para, carregado em navios, ser exportado.
Na parte da tarde do segundo dia comecei a apanhar “estrada de chão”, como eles aqui chamam às estradas de terra. Estas estão muito degradadas porque são atravessadas por uma média de 1500 camiões por dia a pesarem, por vezes, setenta toneladas. Para além disso, a chuva desta época do ano ajuda à degradação. Em certas zonas começam a formar-se lamaçais e, nas subidas, os carregados camiões ficam por vezes atolados, provocando filas que se estendem por dezenas de quilómetros.
Fui passando por este inferno graças aos pneus de tacos que montei em Cuiabá, a mostrarem-se muito eficientes, mas as enormes vibrações na moto provocadas pelo mau piso abriram rachas nas malas de alumínio, já muito castigadas pelos desastres na Índia.
No segundo dia fiquei na cidade de Guarantá do Norte e no dia seguinte enfrentei a pior parte do trajecto, com piso de terra de muita pedra e chuva torrencial que, por vezes, durava só uma meia hora mas, sem encontrar onde me abrigar, tinha que seguir caminho com visibilidade muito reduzida.
Não costumo sair cedo de manhã. Embora o pequeno almoço nestes hotéis de província seja só servido entre as 6 e as 8,30 da manhã, acabo por deixar os hotéis só entre as 9,30 e as 10,30, a tratar de mails e escrita.
Nestas estradas, com zonas em que não circulo a mais de 50 Km/h, já com a sensação que a moto se vai desfazer, acabo por percorrer só cerca de 300 Km por dia.
No penúltimo dia antes de chegar ao Amazonas fiquei em Novo Progresso, uma pequena vila com apenas dois hotéis. O primeiro que visitei não tinha electricidade há dias de maneira que fiquei no outro, num quarto onde a cama de casal ocupava quase a divisão toda. Quando, na manhã seguinte, quis pagar a conta com cartão de crédito, que normalmente funciona em todas as estações de serviço e hotéis, o homem disse-me que a máquina não funcionava mas não haveria problema porque iríamos pagar a conta do Hotel no supermercado do outro lado da rua onde o gerente, não percebi se por sinceridade ou por não querer continuar com o sistema, disse que a dele também estava sem rede.
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