A paisagem das margens deste afluente do Amazonas é fantástica, com a floresta tropical a estender-se até ao rio e, por vezes, este a intrometer-se floresta dentro, formando uma espécie de lagoas, que imaginamos carregadas de crocodilos e piranhas.
Dormi mal na rede, não só por a falta de hábito não me permitir encontrar uma posição confortável como por o abanar do barco a fazer bater contra as dos passageiros do lado.
Atracámos em Santarém às oito e meia da manhã. Carregadores “oficiais”, de “T shirt” azul, entram pelo barco dentro mal este se encosta ao porto.
- Vamos descarregar essa moto?
- Não, que já paguei o dinheiro que tinha ao comandante. Os homens dele descarregam a moto.
Esperei que passasse a azáfama inicial e propus ao comandante que utilizássemos a grande prancha do barco atracado em frente. Ele achou boa ideia e mandou os seus homens buscá-la, o que originou que o comandante vizinho saísse ao cais a protestar.
- Deixe-se de refilar, seu velho. Acha que vamos estragar a prancha? Já lá a colocamos de volta. E dirigindo-se aos seus homens:
- Vá, rápido. Vamos lá. Tragam a moto.
Em três tempos o comandante tratou que colocassem a moto no cais.
Tinham-me recomendado visitar Alter do Chão, a 30 Km de estrada boa, alcatroada, através da floresta.
Quando saía de Santarém vi na beira da estrada um concessionário Honda grande, com bom aspecto. Decidi entrar para saber se tinham máquina de teste electrónico para confirmar se a avaria que a moto tem desde a Argentina provém de algum sensor elétrico, ou é mesmo da bomba de gasolina, como desconfiou o mecânico, de ar competente, que havia na oficina de Cuiabá onde assaram o boi. Ligámos a moto ao aparelho e a única avaria detectada indicava o sensor MAP, o tal que me tinha esquecido de ligar quando troquei velas e filtro de ar. Limpa a avaria no sistema desapareceu o erro. Dá cá 50 Reais (17 euros) e a quase certeza que a avaria só pode ser da bomba de gasolina, que tem sofrido com muitas gasolinas de má qualidade e muito provavelmente contaminadas com água e sujidade.
Cheguei a Alter do Chão por volta do meio dia. Tem uma famosa península em areia com restaurantes de telhado em colmo na praia e mesas no areal, onde se pode almoçar com água morna até à cintura. Tive preguiça de vestir o fato de banho e instalei-me numa mesa à beira rio no restaurante sugerido pelo barqueiro que me levou no bote a remos. Pedi um Pirarucu na manteiga, como me tinha recomendado o meu amigo Armando, de Cuiabá. Esperei uma hora, tranquilamente, a admirar a vista e a ler mas peixe, nem cheiro. Chamei o empregado e perguntei se o tinham ido pescar. Ele puxou uma cadeira e sentou-se à minha mesa para me dar explicações, atitude que traduzi como um mau sinal. Infelizmente estava certo. O gaz tinha-se acabado a meio da fritura e ele próprio, comprovado pelas manchas na “T” shirt branca, tinha ido de bote à vila trocar a bilha. Já não demoraria. Quando finalmente me trouxe o Pirarucu vinha como eu temia: seco da dupla fritura enquanto as batatas cozidas estavam quase cruas. Não deixei de lhe dizer que estava péssimo mas a fome levou-me a comer aquele sem ousar pedir que cozinhassem outro.
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