5 de janeiro de 2018

Argerich 2


Quando, no camião com a moto atrás, chegámos a um ponto onde já havia sinal de telemóvel, ligamos ao meu amigo Adalberto, do “Refugio del Motociclista”, que há dias me esperava:
- Tranquilo, Francisco. No te preocupes. Te estoy preparando un asado para cuando llegues.
Tinha conhecido o Adalberto em Uyuni, na Bolívia, e simpatizei logo com o homem. Ele vive na aldeia de Argerich cuja população não são mais de 110 habitantes. Como grande entusiasta das viagens de moto criou este “Refugio del Motociclista, Ruta 22” que não é mais que um pequeno Hostel com uma única sala que tem meia dúzia de camas, uns sofás, uma mesa de casa de jantar, duas casas de banho e uma cozinha. Tudo o que é necessário. As instalações pertencem à freguesia local e o “Refugio” não pretende dar lucro. Cada motociclista que lá fica paga o que quiser para ajudar nas despesas.
Depois de descarregarmos a moto junto à estrada principal, onde o Adalberto me esperava com dois amigos para ajudarem, segui-o pela estrada de terra da aldeia até ao “Refugio” e ele, ao entrar, pediu que esperasse cá fora um pouco que tinha uma surpresa. Colocou então, em alto som, o hino português a tocar e, ao microfone, fez como que uma apresentação da minha entrada no Refugio, pedindo que cantasse o hino. Grande galhofa.
Em Argerich, há uns anos, pensaram que havia petróleo no subsolo e a comunidade decidiu fazer um furo para o tentarem captar. Furaram cem, duzentos, trezentos metros por ai fora e nada de petróleo. Mas decidiram continuar, seiscentos, setecentos, oitocentos, até que... aos 1000 metros não encontraram petróleo mas água, de proveniência vulcânica e portanto quente. Ligaram-na à rede e deitaram fora os esquentadores. A água é regularmente testada e tem a pureza de água mineral pela que é a única que utilizam. O problema, quando tomei duche é que sai tão quente da torneira que quase queima. E não há fria, para temperar.
Depois do episódio do hino o Adalberto anunciou:
- A minha mulher está ali em casa a preparar uma salada. Enquanto eu asso a carne dá um mergulho aqui no Spa do “Refugio”, disse-me ele divertido enquanto me mostrava a pequena piscina de plástico rígido que enche com água quente e que me soube como o de um Hotel de cinco estrelas depois do dia que tinha tido.
A simpática mulher do Adalberto, uma descendente de italianos com menos 14 anos que ele, e a filha, de 12, vieram jantar o excelente “asado” e dormi que nem um anjo no “Refugio”.
No dia seguinte desmontámos as rodas da moto e fomos a Bahia Blanca, a cidade próxima, comprar pneus. Da parte da tarde fiquei a escrever enquanto o Adalberto foi tratar das 700 vacas que tem a pastar numa herdade ali perto.
- 700 são muitas vacas.
- Aqui na Argentina, não. Qualquer pequeno agricultor tem pelo menos cem.
À noite convidou um animado grupo de oito amigos para me virem conhecer em mais um grande asado no “Refugio”.

2 comentários:

  1. Depois do que tenho lido, principalmente nos últimos dias, ora aqui está o que eu chamo "um dia calmo" :))) Boas curvas companheiro!
    André Lopes

    ResponderEliminar