3 de janeiro de 2018

Argerich - Argentina


Chegado a Puerto Madyr, já com pouca pressão no pneu, fui direito a uma chafarica de reparação de pneus onde um simpático homem o desmontou o e colocou um remendo por dentro. Pensei ter o caso solucionado embora o pneu tivesse sofrido muito ao rodar dezenas de quilómetros em estradas de terra praticamente sem pressão. Instalei-me num Hostel local, saí para jantar numa imitação de Pub inglês e deitei-me cedo, estafado.
No dia seguinte parti às nove da manhã pois tinha mais de seiscentos quilómetros pela frente até Argerich onde morava o argentino que havia conhecido em Uyuni, na Bolívia, e que tinha insistido para lá passar. Uns 150 Km depois parei para abastecer e conheci um casal de brasileiros. Arranquei antes deles mas na bomba de gasolina seguinte, 120 Km depois, voltamos a encontrar-nos e decidimos seguir juntos o resto do dia. Também tinham estado na Península de Valdés no dia anterior e, tal como eu, tinham caído e partido várias peças na BMW 800. Eu só fiquei sem retrovisor direito.
Quando, passados cento e tal quilómetros, voltamos a parar, por ter sentido que a moto fugira um pouco de traseira numa rotunda fui verificar a pressão do pneu e estava baixa. Não podia prosseguir viagem sem o reparar pois arriscava a ficar no meio do nada. Estas ligações entre vilas na Patagónia são praticamente desertas e não há sequer uma casa ou comércio onde se possa pedir ajuda, nem  rede de telemóvel.
Eram quase três da tarde e naquela zona de calor os habitantes herdaram dos espanhóis o hábito da sesta pelo que fiquei à espera junto a uma “Gomeria”, como aqui chamam às reparadoras de pneus, que chegasse o dono.
O homem começou por tentar voltar a colocar um remendo por dentro, desta vez reforçado, mas o pneu continuava a perder ar de maneira que lhe pedi que me montasse uma câmara de ar que trazia, contra sua vontade que bem me avisou que iria aquecer e rebentar por aquelas jantes e pneus serem “tubeless”.
Quando arranquei já passava das cinco da tarde e não fiz mais de cinquenta quilómetros até a câmara de ar rebentar.
Estava no meio do nada sem sequer acesso a um telefone ou rede de telemóvel pelo que decidi ir andando, a 30 Km/h, com o pneu furado e os quatro piscas ligados.
Tinha percorrido dez quilómetros, o pneu começava a saltar da jante e fazia planos para montar a tenda junto à estrada e por ali passar a noite embora, por distração, tivesse pouca água, quando um camião que me ultrapassou encostou à berma com os quatro piscas ligados.
Pensei que também ele teria tido algum problema mas ao parar para lhe perguntar se faltavam muitos quilómetros até à próxima cidade disse-me que tinha parado para saber se precisava de ajuda e, ao ver o meu pneu, perguntou-me se não queria carregar a moto no camião pois regressava a Bahia Blanca vazio, a cidade 30 Km depois de Argerich. Para mais o camião tinha um elevador traseiro, única forma de podermos carregar a moto.
Parecia milagre. Aquele homem tinha verdadeiramente caído do céu.

4 comentários:

  1. Mas é que nasceu mesmo com o ** virado para a lua.
    Ana

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  2. Obrigado pela sua resposta e espero que a viagem continue a decorrer bem, pesem embora as diferentes peripécias que são geralmente ultrapassadas por quem arrisca e não vira a cara à luta...
    Grande abraço e continuarei a "persegui-lo" recolhendo informações e "sentires"

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  3. O problema é que só vias pedra por todo o lado, porque se houvesse erva, para não rolar vazio, uma solução à McGyver seria encher o pneu com erva para não trilhar...
    Boas curvas!
    André Lopes

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