Chegado a Puerto Madyr, já com pouca pressão no pneu, fui direito a uma
chafarica de reparação de pneus onde um simpático homem o desmontou o e colocou
um remendo por dentro. Pensei ter o caso solucionado embora o pneu tivesse
sofrido muito ao rodar dezenas de quilómetros em estradas de terra praticamente
sem pressão. Instalei-me num Hostel local, saí para jantar numa imitação de Pub
inglês e deitei-me cedo, estafado.
No dia seguinte parti às nove da manhã pois tinha mais de seiscentos
quilómetros pela frente até Argerich onde morava o argentino que havia
conhecido em Uyuni, na Bolívia, e que tinha insistido para lá passar. Uns 150
Km depois parei para abastecer e conheci um casal de brasileiros. Arranquei
antes deles mas na bomba de gasolina seguinte, 120 Km depois, voltamos a
encontrar-nos e decidimos seguir juntos o resto do dia. Também tinham estado na
Península de Valdés no dia anterior e, tal como eu, tinham caído e partido
várias peças na BMW 800. Eu só fiquei sem retrovisor direito.
Quando, passados cento e tal quilómetros, voltamos a parar, por ter sentido
que a moto fugira um pouco de traseira numa rotunda fui verificar a pressão do
pneu e estava baixa. Não podia prosseguir viagem sem o reparar pois arriscava a
ficar no meio do nada. Estas ligações entre vilas na Patagónia são praticamente
desertas e não há sequer uma casa ou comércio onde se possa pedir ajuda, nem rede de telemóvel.
Eram quase três da tarde e naquela zona de calor os habitantes herdaram dos
espanhóis o hábito da sesta pelo que fiquei à espera junto a uma “Gomeria”,
como aqui chamam às reparadoras de pneus, que chegasse o dono.
O homem começou por tentar voltar a colocar um remendo por dentro, desta
vez reforçado, mas o pneu continuava a perder ar de maneira que lhe pedi que me
montasse uma câmara de ar que trazia, contra sua vontade que bem me avisou que
iria aquecer e rebentar por aquelas jantes e pneus serem “tubeless”.
Quando arranquei já passava das cinco da tarde e não fiz mais de cinquenta
quilómetros até a câmara de ar rebentar.
Estava no meio do nada sem sequer acesso a um telefone ou rede de telemóvel
pelo que decidi ir andando, a 30 Km/h, com o pneu furado e os quatro piscas
ligados.
Tinha percorrido dez quilómetros, o pneu começava a saltar da jante e fazia
planos para montar a tenda junto à estrada e por ali passar a noite embora, por
distração, tivesse pouca água, quando um camião que me ultrapassou encostou à
berma com os quatro piscas ligados.
Pensei que também ele teria tido algum problema mas ao parar para lhe
perguntar se faltavam muitos quilómetros até à próxima cidade disse-me que
tinha parado para saber se precisava de ajuda e, ao ver o meu pneu,
perguntou-me se não queria carregar a moto no camião pois regressava a Bahia
Blanca vazio, a cidade 30 Km depois de Argerich. Para mais o camião tinha um
elevador traseiro, única forma de podermos carregar a moto.
Parecia milagre. Aquele homem tinha verdadeiramente caído do céu.
Mas é que nasceu mesmo com o ** virado para a lua.
ResponderEliminarAna
Ha, ha, ha.
EliminarObrigado pela sua resposta e espero que a viagem continue a decorrer bem, pesem embora as diferentes peripécias que são geralmente ultrapassadas por quem arrisca e não vira a cara à luta...
ResponderEliminarGrande abraço e continuarei a "persegui-lo" recolhendo informações e "sentires"
O problema é que só vias pedra por todo o lado, porque se houvesse erva, para não rolar vazio, uma solução à McGyver seria encher o pneu com erva para não trilhar...
ResponderEliminarBoas curvas!
André Lopes