Cheguei a La Paz pelas duas da tarde. Tinha marcado um Hotel perto do
centro essa manhã pela internet para não
andar perdido pela cidade. Tenho usado o GPS do telemóvel da Google para me
guiar nas cidades, desde que perdi o que tinha na moto, antes de chegar à
Australia. Este sistema de agora tem
feito o serviço mas há estradas secundárias que a própria Google não tem
digitalizadas ou outras onde, talvez por terem sido modificadas recentemente, o
Google se perde. Foi o que aconteceu agora e às tantas estava no meio de uma
favela de La Paz, sem saber para que lado me virar e só pensava nos dois italianos
que no início do ano seguiram o GPS das suas BMW para o interior de uma favela
no Rio de Janeiro e foram alvejados, um deles acabando morto.
Felizmente dei rapidamente com o caminho certo e nunca me senti
verdadeiramente em perigo.
Cheguei ao Hotel pelas três da tarde. Deixei a moto guardada numa loja que
tinham com porta para a rua e não estava em funcionamento e aproveitei para ir
visitar o centro da cidade a pé.
Passei por uma manifestação, em frente ao tribunal, que praticamente
bloqueava duas ruas, tal era o aglomerado de gente.
- De que se queixam?, perguntei a uma senhora.
Na espécie de pequeno restaurante onde almocei onde apenas faziam uns
fritos com queijo dentro e outros com mel acompanhados por uma bebida quente
que já cá tinha provado e à vista parece sangue espesso, eram de opinião
diferente dos manifestantes
- Com paus e pedras? Perguntei.
- Não, com dinamite, que aqui não se faz a coisa por menos.
E pouco depois ouviam-se pequenas explosões do que pareciam ser foguetes
atirados contra o tribunal.
Fui ainda até á praça principal e visitei o museu de arte que é bastante
fraco quando comparado com os que tenho visto mundo fora.
La Paz é do género de Lisboa, com acentuadas subidas e descidas por toda a
cidade. Assim, quando voltava ao Hotel, depois de uma caminhada de mais de uma
hora por aqueles declives, sentei-me a descansar num degrau de uma porta, após
ter enfrentado uma íngreme subida agravada por estarmos a 3600 metros de
altitude e os pulmões terem dificuldade em serem oxigenados.
Qual é o meu espanto quando se vem sentar um homem ao meu lado que era nem
mais nem menos que o Indiano que viajava de moto com a Iraniana. Fartámo-nos de
rir. Que maior coincidência pode acontecer numa cidade de mais de dois milhões
de habitantes?
Ficámos um pouco á conversa e despedimo-nos com a certeza de que nos
voltaríamos a encontrar durante esta viagem, embora ele supostamente ficasse
mais quatro dias em La Paz e fosse rumo ao Sul pela Argentina enquanto eu iria
pelo Chile.
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