16 de maio de 2017

Mutatá


Acordámos às nove e meia da manhã e, quando saímos à rua, parecia que estávamos noutra cidade. O contraste entre o deserto nocturno, só com pequenos grupos de rapazes com mau aspecto nas ruas, e o intenso movimento de dia, com milhares de pessoas, carros, camiões, autocarros e motos de um lado para o outro, era abismal.
Fomos tomar o pequeno almoço a uma pastelaria onde tinham um pão de queijo excelente, passámos numa máquina multibanco a levantar dinheiro, que não havia em Capurganá e estávamos os dois sem um tostão, e fomos até à alfândega, dentro de uma base militar onde se chegava através de uma estrada de terra, tratar da importação temporária das motos.
Aí despedimo-nos pois o Ryan seguia para Cartagena e eu para Sul, a caminho de Medellin e Bogotá, onde iria deixar a moto antes de partir para Portugal.
Como só me despachei da alfândega às três da tarde fiz apenas cento e cinquenta quilómetros e, antes de anoitecer, instalei-me no único Hotel que havia na pequena vila de Mutatá. Não era mau e a diária foi o equivalente a 9 euros.
Aqui a vida é barata. Contratei uma miúda muito gira que deambulava pelo bar do Hotel pelo equivalente a 15 euros para passar umas horas comigo e, como ainda bebemos um par de cervejas antes e depois, acabei por me deitar só à uma e meia da manhã.
- Porque falas tão bem espanhol?
- Porque em miúdo costumava ir muitas vezes a Espanha, com os meus pais.
- Ai em Espanha falam espanhol?
Quando acordei chovia e comecei o dia numa estrada de montanha muito escorregadia, também devido à mistura da seiva da densa vegetação com a água da chuva e pelo facto dos pneus da Cross Tourer já estarem nas ultimas. Cheguei a Medellin pelas cinco da tarde e fui até ao centro para ter uma ideia da cidade. O transito é muito intenso e, por a cidade estar num vale, rodeada de montanhas, a poluição é muita e torna-se insuportável. Algumas destas montanhas que rodeiam o vale estão cobertas pelo castanho encarniçado da côr de tijolo das favelas cujas casas não são rebocadas nem pintadas. Ao longe até fazem uma imagem bonita e bem enquadrada na paisagem. O grande problema da cidade é a poluição que torna o ar irrespirável. Ainda visitei o famoso bairro de “La Puebla” mas depois procurei um Hotel onde passar a noite e no dia seguinte parti, de manhã, sufocado por aquele ar.
A estrada até Bogotá é linda, a maior parte através de montanhas com muita vegetação, e dá imenso gozo fazer. Embora na sua maioria seja uma estrada de via única em cada sentido, tem portagens, mas as motos na Colômbia, felizmente, estão isentas.
Desde o dia anterior que vinha a sentir a moto a abanar em curva mais que o norma e pensei que seriam os parafusos que seguram a parte de trás do quadro que tinham voltado a ceder mas acabei por verificar, numa bomba de gasolina, que era simplesmente o pneu traseiro que tinha perdido pressão. Vou ter que os substituir no meu regresso à Colômbia.
Cartagena foi a capita da Colômbia até 1819, quando os espanhóis a decidiram mudar para Bogotá que, por estar a perto de três mil metros de altitude não tem  mosquitos e por isso não é afectada pelas doenças que transportam, por os pequenos insectos não sobreviverem a estas alturas. Para além disso, a esta altitude, Bogotá é bastante mais fresca que o território que a rodeia e tem muito menos poluição que Medellin.
Fiquei dois dias bem instalado em casa do simpático embaixador português, que me levou a mim e outro convidado que lá tinha, a visitar a cidade, além de organizar um jantar com portugueses que por lá vivem.
A moto ficou guardada em casa do embaixador, quando parti de avião para Portugal.
No final de Setembro regresso para percorrer a América do Sul.


4 comentários:

  1. Claro que eu tinha de comentar essa frase:
    "Contratei uma miúda muito gira que deambulava pelo bar do Hotel pelo equivalente a 15 euros para passar umas horas comigo"
    Isto não se escreve assim ��!

    Boa viagem de regresso.
    Beijinhos
    Ana

    ResponderEliminar
  2. Francisco, tudo de bom no regresso a casa. E, se não for antes, até Setembro.

    Ab

    ResponderEliminar
  3. Motocicleta legal a sua... bem alta. Adorei o post, achei muito interessante.

    ResponderEliminar