No dia seguinte voltei a Colón para tentar encontrar outra solução de transporte
que não a da mulher da agencia de navegação, que consistia em mandar a moto num
contentor e eu partir de avião até Cartagena, na Colômbia.
A cidade de Colón parece que acabou de estar envolvida numa guerra. As
casas estão todas com aspecto que vão cair no dia seguinte, milhares de fios eléctricos
pendurados entre as fachadas e alguns
postes e lixo nas ruas por todos os lados. A população passeia de um lado para
o outro no meio deste estado de sítio. Dizem ser a cidade mais perigosa do
Panamá e não me admira. O ambiente é quase assustador.
Desta vez fui até uma pequena doca no centro da cidade onde atracam
pequenos barcos dos seus vinte a trinta metros que parecem, todos eles, deverem
muitos anos ao ferro velho. Ali só têm espaço para quatro ou cinco destes
barcos de cada vez. Já lá tinha passado antes mas o guarda, que arrasta o
enorme portão de cada vez que chega um camião ou carrinha para descarregar ou
carregar um barco, tinha-me despachado, dizendo que não haveria barcos a saírem
para a Colômbia nos próximos dias. Desta vez, vendo a minha insistência, lá me
deixou falar com um ou outro dos comandantes. É uma gente estranha porque nunca
percebemos se estamos a falar com a pessoa certa.
- Então é você o comandante daquele barco?
- Sim, sou eu.
- Leva-me esta moto até à Colômbia.
- Sim, sem problema.
Combinamos o preço e, depois, percebo que não é ele o comandante e vai mais
tarde negociar o preço com a pessoa certa par tentar retirar uma comissão.
Um homem com umas calças beijes engomadas e melhor aspecto que os outros
acordou um preço comigo, intitulando-se dono do barco que partiria dentro de dois
dias.
- Tudo bem. Por 250 dólares, incluindo a alimentação, levamo-lo a si e à
moto até Puerto Baldia, na fronteira com a Colômbia e onde já facilmente
encontra uma lancha para o transportar até ao outro lado. Vamos lá falar com o
Comandante. Espere aqui.
- Mas eu pensei que você era o comandante.
- Não, mas não há problema.
- E lá foi falar com o possível comandante dizendo-lhe que eu pagaria 200 dólares
pelo transporte.
- Ficou acordado trazer a moto dois dias depois, numa sexta feira, para a
carregarmos e partirmos na madrugada do dia seguinte.
Quando lá cheguei, na manhã de sexta feira, o primeiro homem disse-me que
estavam atrasados 24 horas, para voltar no dia seguinte. E quando eu me ía
embora, assim do nada, virou-se para mim e disse, nas barbas do director da
alfandega:
- Dê-me aí dez dólares.
- Não. Só pago seja o que for quando carregarmos a moto.
- Decidi então voltar à cidade do Panamá, onde só tinha estado pouco tempo.
Cheguei de dia, ainda a tempo de tirar umas fotografias, depois de me instalar
no Hotel onde tinha estado uns dias antes e fui jantar cedo, a um restaurante da
moda local, com uma decoração moderna mas refeições pouco mais que razoáveis e
caras.
Na manhã seguinte voltei a percorrer os cerca de
70 Km que separam a capital de Colón e regressei ao pequeno porto para me
encontrar com o suposto capitão do barco em que deveria embarcar, antes do meio
dia, como me tinham pedido.
Quando lá cheguei o guarda que passa o dia a correr
o portão por onde deve passar metade da droga que entra na América Central a
caminho dos Estados Unidos disse-me para esperar numa cadeira podre e suja que
tinha à porta, a condizer com tudo o resto, que o capitão tinha saído e já
voltava. Passada uma hora, quando dois miúdos iam a sair informou-me: este é
neto do capitão. E perguntou ao miúdo onde andava o avô.
- O meu avô foi para a igreja rezar e só regressa dentro
de três horas.
A ideia de um capitão que vai para uma igreja
rezar três horas, antes de partir para uma viagem no seu barco a cair de podre,
assustou-me.
Voltei a sentar-me e fiquei por ali à conversa com
um rapaz e o homem do portão, que de vez em quando revistava de forma superficial
mochilas com roupa velha antes de saírem o portão mas mandava passar sem pestanejar
camiões e carrinhas de carga. Nada parecia fazer sentido.
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