A directora comercial da companhia de navegação, uma preta gorducha com ar despachado,
prontificou-se logo a encontrar uma solução para o meu problema de transporte. Era
uma vendedora nata e passado um quarto de hora já estava a perguntar-me se não queria
comprar uns óculos de moto que um amigo tinha mandado vir num contentor da China
a um dólar cada, e mostrou-me logo meia dúzia de exemplares que tinha num saco
neste pequeno escritório interior, com luz artificial e ar condicionado no
máximo. Depois perguntou se não precisava de uma top case para a moto a 20 dólares
e levou-me ao armazém para as mostrar. Entretanto eram cinco da tarde e
perguntou-me onde iria ficar essa noite. Quando lhe disse que procuraria um hotel
ligou para a irmã que disse me poderia alugar um quarto. E lá decidiu fechar o
escritório, que eram horas, mandando os quatro outros elementos para casa e
partimos, eu a segui-la na moto, ver o quarto da irmã. Antes de entrar no
carro, olhou para a minha cabeça e, com um ar sério disse:
- Eu também tenho um cabeleireiro. Não quer cortar o cabelo?. Só visto.
A irmã não tinha a pedalada dela e o quarto para alugar estava sujo e ela
achava que valia o preço de um hotel, de maneira que agradeci e arranquei, ao final
da tarde, para Portobelo, uma pequena vila numa velha baía de piratas de onde
saem alguns dos iates que vão para a Colômbia. Muitos fazem disso negócio, levando
turistas a passear através das ilhas paradisíacas de San Blas e alguns, muito
provavelmente, trazendo de volta um ou outro “carregamento” que ajude às despesas.
Quando estava a uns 4 Km da vila, já de noite, parei num primeiro Hostel
mas achei caro para o aspecto e segui viagem até que um miúdo numa bicicleta me
mandou parar e perguntou se estava à procura de transporte para a Colômbia. Um
amigo dele teria uma lancha. Sabia também de um Hostel bom e barato.
Lá fiquei no “El Castillo” e, como era o único cliente, preferi uma das
três camas de casal da camarata a 12 euros que o quarto individual por vinte.
O Hostel era gerido por um francês de origem Vietnamita, dos seus sessenta
anos, que tinha aqui chegado no seu barco à vela há quatro anos, vindo de Marselha
e por cá ficou, encantado com o local. Passeava o seu cão, que tinha perdido
uma pata num atropelamento aqui à porta, ao fim a tarde, os dois numa prancha de
surf, pela baía. Duas simpáticas irmãs venezuelanas tratavam das limpezas e
cozinha, ajudadas por uma local. A casa era construída em cima de estacas sobre
o mar e todas as noites adormecia com o som do mar a bater nas rochas debaixo do
quarto. Um enorme salão/bar/restaurante era aberto para o Oceano, sem janelas.
As dos quartos tinham cortinas ou persianas mas não vidros. Aqui chove mas
nunca faz frio. Tudo tinha um ar muito rústico e até de certa forma perigoso,
com a instalação eléctrica num estado lastimoso. Mas, tudo isso fazia parte da
“patine” do local.
No dia seguinte fui até à vila saber se havia previsão de barcos a saírem
para a Colômbia e completei o inquérito com uma ida até Puertolindo, a baía e
porto seguintes, uns 20 Km à frente. Aí aluguei mesmo um pequeno barco a motor
e fui com o dono e um ajudante dar uma volta pelos iates ancorados na baía,
para saber se algum pensava partir brevemente, com espaço para transportar a “Cross
Tourer”. Infelizmente, os que estavam para sair não tinham onde a colocar.
Outra solução foi apresentada por uma das venezuelanas que tinha um amigo
com uma pequena lancha com dois motores que fazia o trajecto regularmente e até
já tinha transportado uma ou outra moto. Contactei-o e disse que poderia fazer
o transporte dentro de dois dias mas várias pessoas aconselharam-me a não seguir
essa hipótese pois a lancha, com dois motores a dois tempos de 40 cv., era
pequena de mais para enfrentar as ondas do mar das Caraibas, que chegam a atingir
cinco metros, com uma moto de 300 Kg às costas. Mas esse assunto ficou resolvido
quando o rapaz me propôs uma verba de 900 euros para o transporte, muito
próxima da que pedem os donos dos barcos à vela. Estava apostado em encontrar
uma solução mais económica.
E o cabelo ? Levou corte?
ResponderEliminarAposto que não
Curiosa para saber como foi a travessia.
Boa viagem
Ana
Ha, ha. Não, não levou.
EliminarTambém já ando há alguns dias a pensar como o Francisco vai levar a Crosstourer até à Colômbia. Cheira-me a mais uma grande aventura... Boa sorte!
ResponderEliminarParece-me que a verdadeira aventura está agora a começar no continente americano ...
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