A cerca de 50 Km de Panamá City deparámos com uma fila de carros
paticamente parada, provocada por um desastre, que durou até perto da capital.
Seguindo um dos meus companheiros de viagem neste pequeno trajecto, visto que o
segundo tinha ficado numa cidade antes, fizemos mais de quarenta quilómetros
por entre os carros e a berma, o que obviamente nos fez perder cerca de uma hora.
Chegámos à cidade já de noite e o meu amigo levou-me até à porta do tal
Hostel que eu procurava, onde me tinham indicado que teriam o contacto de donos
de pequenos iates à vela que poderiam transportar-me, a mim e à moto, até à
costa da Colômbia.
O problema é que, segundo dizem por pressão dos americanos, para atrapalharem
o comércio de droga vinda da América do Sul e controlarem o fluxo de emigrantes
ilegais que aqui chegam, muitos deles vindos de África, não existe estrada
entre o Panamá e a Colômbia. Assim terei que encontrar um barco que possa fazer
este trajecto, através do mar das Caraíbas.
O Hostel, que tinha um letreiro à porta onde se lia: “boats for Colômbia” estava cheio e quando saí à rua para me
preparar para ir para um outro lado da cidade onde me tinham dito que
encontraria onde ficar, um tipo branco, alto e magro, com quarenta e tal anos, a
cara a pingar de suor, veio falar comigo num inglês perfeito. Todo “speedado”
perguntou se eu estava à procura de hotel, que ele iria a correr a dois ou três
que havia ali perto ver se tinham lugar.
Estranhei e perguntei:
- Mas, porque faz isso? Quanto pretende ganhar?
- Nada. Se quiser depois dar-me um dólar ou dois aceito.
- Você é americano?
- Não. Sou de cá.
- Porque fala tão bem inglês?
- Fui para os Estados Unidos em miúdo e só regressei há pouco tempo. E
partiu a correr.
- Espere cinco minutos, disse-me já depois de arrancar.
Enquanto esperava, um preto, mais novo, simpático, veio pedir-me para
sentar uma criança na moto para uma fotografia. Estava com a mãe da miúda e
mais duas amigas e um amigo a fazerem sala à porta de um prédio e, conversa
puxa conversa, perguntaram se não queria uma cerveja que traziam numa geleira.
E ali fiquei a beber uma cerveja com eles enquanto o outro, que vim a saber ser
amigo deles e morar no mesmo prédio, não regressava. Quando o homem chegou da
sua correria, sempre a suar, sem ter encontrado um quarto para mim, juntou-se
ao grupo.
- Eu já não toco em alcool nem em tabaco há dois anos.
- Boa, disse-lhe eu.
- Não dispenso é a Coca. Isso é que é inevitável.
- Bem me parecia, respondi-lhe. Isso dá-lhe cabo da saúde.
- Não. Morre mais gente por causa do alcool e do tabaco do que pela Coca.
- Isso é porque a Coca é um vício mais caro.
- Não, aqui não é. Mais barato que o alcool. 5 euros dão-me para o dia
inteiro.
Passada uma meia hora arranquei à procura de Hotel, quando já eram nove da
noite. Acabei por encontrar um não longe de ali.
No dia seguinte deixei a cidade a pelas onze da manhã a caminho de Colón, o
porto que fica a 70 Km da cidade, na outra ponta do canal e de onde partem os
barcos de carga, outra das hipóteses para o transporte da moto. A cidade
portuária é um caos e, no meio, tem uma zona franca de vários quarteirões, com
portões e guardas armados. Quando procurava onde me dirigir para encontrar
transporte, perdido na confusão, um rapaz à porta de um dos prédios onde fui
parar, que aí tratava de papelada de navegação, disse-me que sabia de uma senhora que
trabalhava numa companhia de navegação que me poderia ajudar. Estava numa
pequena moto e segui-o até aos escritórios da companhia que se situava dentro da
zona franca. No primeiro portão não me deixaram entrar e tivemos que dar a vota
à mini cidade formada por lojas e companhias diversas, para chegar ao portão
principal onde, a pedido do rapaz, um chefe gordo com ar de poder lá me deu
autorização para entrar com a moto, não sem antes dizer a um subalterno que me
inspecionasse a bagagem, o que se resumiu à abertura de duas das malas sem
sequer as retirar do sítio. Um proforma.
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