16 de maio de 2019

Guiné Bissau 1



Tinha pedido ao Cônsul Português na Guiné Bissau que falasse com as autoridades para me deixarem tratar do visto na fronteira, evitando assim a deslocação à Embaixada em Conakry, que representava um desvio de umas centenas de quilómetros no caminho. Ele prometera-me tentar.
Como em Kouroussa não tinha internet não sabia a resposta mas arrisquei tomar o caminho da fronteira e seguir até Labé.
No Hotel em que fiquei tinham internet à noite, quando a electricidade era ligada, e fiquei aliviado quando li o email do Cônsul a confirmar que recebera autorização para que me tratassem do visto na fronteira. 
Mas ainda teria pela frente um trajecto difícil.
A estrada que sai de Labé a caminho da fronteira com a Guinè Bissau começa por ser de longas rectas em bom piso atravessando depois uma serra de curvas rápidas numa parte muito divertida de percorrer. Segue por uma longa estepe, de uns duzentos quilómetros para, já perto da fronteira, entrarmos numa estrada de terra com mau piso e em alguns locais uma areia fininha, quase pó, que se entranha por todo o lado. São apenas 35 Km  que me levaram mais de uma hora a percorrer. Depois, mais uns quilómetros de alcatrão e voltamos a entrar numa estrada de terra de muito mau piso e com areia mole em alguns locais. Foi um percurso muito cansativo, agravado pelo fato de ter ficado sem água para beber. Acabei por encontrar uma aldeia onde a vendiam mas a falta de electricidade não permitiu que fosse fria.
Foram cerca de cem quilómetros muito difíceis e, já perto da fronteira, caí numa parte de areia mole. Felizmente não demorou muito até aparecer ajuda para levantar a moto mas cheguei à fronteira … de rastos.
No posto da Guiné Bissau tinham indicação que eu ali chegaria mas a fronteira não estava preparada para passar vistos. Teria assim que ir até à cidade mais próxima, a 70 Km mas, segundo eles, não poderia ir sozinho pois não tinha visto. Deveria levar uma escolta.
- Escolta? Mas como?
- Este rapaz vai consigo na moto até à cidade para tratarem lá do visto.
- Não vai, não. Não tenho espaço para passageiros.
- Nesse caso vamos encontrar outra solução mas o senhor tem sempre que levar escolta. Não pode ir sozinho sem visto.
Chamaram então, ao pequeno posto fronteiriço, uma mulher que saberia escrever português para passar um papel, escrito à mão, que acompanharia a escolta caso fosse mandada parar pela polícia. O referido papel deveria explicar qual era a missão do rapaz na sua deslocação à cidade maior.
A mulher escrevia como uma criança da primeira classe, muito devagar, com letra infantil e as linhas em declive. Demorou mais de meia hora a produzir o documento que o único guarda fronteiriço lhe ditava. 
Fui à rua comer uns ovos cozidos e fruta que uma mulher vendia e, de cada vez que regressava lá dentro, a mulher tinha avançado uma linha.
Quando, finalmente, o documento estava pronto trataram de procurar transporte para a dita escolta. A única alternativa encontrada foi um velho furgão Mercedes, a cair de maduro, todo amolgado, sem alguns dos vidros laterais a que um dos homens trocava um pneu furado por um quase a furar enquanto outro discutia com um chefe de família o preço a levar pelo transporte de quatro passageiros e uma carrada de sacos e bagagens. Depois de muita discussão não chegavam a acordo e logo outro voltava a tirar do tejadilho a carga da família do velho enquanto novos clientes esperavam a oportunidade de subirem a bordo daquele transporte com poucas hipóteses de chegar ao destino. Um deles foi a minha escolta. A carrinha estava finalmente pronta para arrancar, já perto das seis da tarde. Informaram-me que a estrada estava em muito mau estado e disse por isso ao meu escolta que partiria na frente, para não andar de noite. Esperaria pela chegada dele no posto de polícia da cidade, onde colocariam o visto no meu Passaporte.

Arranquei para mais um martírio na forma de uma estrada supostamente asfaltada mas tão degradada que mais valia não estivesse. Cheguei a Gabu ao cair da noite.

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