26 de abril de 2019

Gabão



De manhã segui em direcção a Libreville, a capital. Não era o meu trajecto mas teria que lá passar para tratar do visto para os Camarões. A paisagem é fantástica, com a estrada a rasgar a floresta tropical, de muitas especies diferentes de árvores. A economia do país é baseada na exploração petrolífera e florestal e, tal como no Congo, nas estradas vemos enormes camiões carregados de árvores de enorme porte.
Pela hora de almoço parei numa tasca junto a uma rotunda. Estava a cerca de 200 Km da capital mas teria que voltar aquele local quando regressasse, a caminho dos Camarões. A senhora propôs-me carne de crocodilo para o almoço, que os há por ali em quantidade. Aceitei e gostei embora a pele, gelatinosa e dura, não me tenha agradado.
Da parte da tarde segui até à capital. Os últimos sessenta quilómetros são um martírio, com a estrada que já foi alcatroada em muito mau estado.
Ao chegar fui até à marginal, para sentir o cheiro do mar, que me fazia falta.
Um tipo num jipe pediu que parasse e veio fazer conversa. Gostava de motos e tinha planeado, em tempos, vir da Europa até ali com o irmão e um amigo mas o projecto não se concretizara. Perguntei-lhe por um Hotel razoável e acessível e guiou-me até onde me instalei. Só nessa altura verifiquei que era Sábado e portanto no dia seguinte não poderia tratar do visto que ali me levara. 
A manhã nasceu chuvosa e aproveitei para descansar, ler e escrever, sem sair do Hotel.
Segunda de manhã fui à Embaixada dos Camarões tratar do visto. Quando saía, um dos guardas fardados que estava à porta, chamou-me à parte e pediu-me uma gorjeta. Não lhe dei.
Da parte da tarde tratei de mudar o filtro de ar à moto. Havia-o substituído na Africa do Sul, há cerca de dez mil quilómetros, mas as estradas do Congo e Gabão tinham-no deixado em mau estado.
Parti na terça enfrentar aquela horrível estrada, única via de entrada e saída da capital. Como estava mais descansado, pela manhã, não me custou tanto. 
Voltei a almoçar na mesma tasca de três dias antes, desta vez Javali, que não me soube tão bem como o Crocodilo.
A partir daquela rotunda, o caminho para os Camarões é por uma serra em que a estrada ziguezagueia através da densa floresta por mais de 400 Km. É uma paisagem exuberante onde por vezes os gigantescos bambus formam um leque sobre a estrada. Árvores de grande porte misturam-se com outras de diversas folhagens que nos deixam encantados a cada curva que passa. 
Devem ser estas paisagens que levam muitas das mulheres africanas a perguntarem-me, quando sabem que estou a atravessar o continente.
- Não tem medo dos animais selvagens?
Porque elas imaginam um Leopardo ou Cheetah prontos a atacarem a cada curva da floresta.
Pelas quatro e meia da tarde cheguei à vila de Ndjolé e, sem tempo para chegar à cidade seguinte com luz do dia, decidi por ali ficar. O único Hotel decente era caro e mais uma vez não tinha Francos CFA que chegassem para a diária. O dono não quis aceitar dólares e fui procurar quem os trocasse na vila. Acabei por encontrar um tal de Assan, um árabe dono de uma mercearia que resolveu o assunto.
Continuei o trajecto a caminho dos Camarões por serras verdejantes, agora junto à fronteira com a Guiné Equatorial, que contornei.

Depois da ultima vila no Gabão são uns 30 Km até à fronteira. Quando lá cheguei não me deixaram passar pois deveria ter carimbado o passaporte na delegação aduaneira daquela vila. Quem poderia adivinhar. Não tive outro remédio senão voltar atrás para mais uma sessão de cópias de passaporte e preenchimento de livros à mão com nomes de pai e mãe, etc.

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