26 de outubro de 2017

Ipiales


No caminho para Ipiales ainda apanhei uma derrocada de pedras que terá acontecido mesmo antes de eu passar, pois fui o primeiro a chegar ao local. Como a moto passava, deixei o trabalho de remoção para os camionistas que entretanto chegaram e segui viagem.
Ao chegar à cidade fronteiriça instalei-me no Hotel com melhor aspecto que encontrei. Por acaso era novo e estava impecável. Fui depois procurar uma cinta para prender o saco amarelo onde transporto a tenda, saco cama e outras pequenas coisas, porque uma delas se partiu.
Quando saía da loja um Equatoriano muito simpático parou o carro e veio ter comigo. Também tinha motos e ficámos um pouco à conversa. Indicou-me um Hotel onde ficar em Quito e falou-me no mesmo Grupo de Ajuda Motard Internacional que quem tinha encontrado no dia anterior me tinha falado. É um grupo Sul Americano que tem aderentes de vários países.
No dia seguinte de manhã, antes de ir para a fronteira, a meia dúzia de quilómetros, ainda fui visitar a famosa catedral Santuario de Las Lajas que, por fora é fantástico, além da localização, em cima de uma falésia sobre um rio, mas o interior não me impressionou tanto como outras que tenho visto na America Central e do Sul.
Quando estava na fila da fronteira para declarar a saída da moto da Colômbia alguém me disse que precisava de fotocópia dos documentos e, no tempo de as ir tirar e voltar, o homem de serviço decidiu ir almoçar. Disseram-me que teria que esperar uma meia hora e por ali fiquei. Entretanto outro, com o ar de que iria avançando o processo, pediu para ver a minha importação temporária e constatou que estava fora de prazo. Na entrada tinham-me dito que era válida para seis meses mas na prática estava passada para três meses depois dos quais a deveria ter renovado por mais três. Como deixei cá a moto no início de Maio e só em Setembro voltei, os primeiros três meses tinham passado e o documento estava caducado. A solução, disse-me o homem, seria pagar uma multa de 1,8 milhões de Pesos, o equivalente a cerca de 600 Dólares. Disse-lhe que não tinha esse dinheiro e ele pediu que esperasse pelo chefe para saber o que ele diria mas que não estava a ver outra solução. Passados uns dez minutos veio ter comigo. Disse que tinha falado com o chefe e que ele perguntara quanto eu estaria disposto a pagar para resolver o problema.
- 20 Dólares, disse-lhe eu. É o que posso.
Ele fez um ar de como quem diz: “estás a gozar comigo” mas ao mesmo tempo parecia estar a tentar perceber se eu os estava a entalar, por alguma razão. Disse-me que iria perguntar mas que pensava não haver hipótese nenhuma.  Passado um quarto de hora veio o chefe falar comigo. Não me falou em qualquer pagamento por fora, muito provavelmente por ter achado a oferta ridiculamente baixa, mas apenas que a única solução seria pagar a multa. Disse-lhe a ele também que não tinha esse dinheiro e, por fim, ele saiu-se com outra solução, daquelas que só vemos nestes países de gente que resolve os problemas à boa maneira de outros tempos:
Se quiser o que podemos fazer é eu fechar os olhos e você sair do país como se nada fosse, sem apresentar qualquer papel. O único problema é que, se regressar cá com essa moto vai ter que pagar a multa.
- Oh. Maravilha. Obrigado. Até à próxima.

2 comentários:

  1. Acho notável a frieza com que o Francisco resolve todas estas situações... Fantástico!!

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  2. Quando se nasce virado para a Lua...
    Boa viagem
    Ana

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