No caminho para Ipiales ainda apanhei uma derrocada de pedras que terá
acontecido mesmo antes de eu passar, pois fui o primeiro a chegar ao local.
Como a moto passava, deixei o trabalho de remoção para os camionistas que
entretanto chegaram e segui viagem.
Ao chegar à cidade fronteiriça instalei-me no Hotel com melhor aspecto que
encontrei. Por acaso era novo e estava impecável. Fui depois procurar uma cinta
para prender o saco amarelo onde transporto a tenda, saco cama e outras pequenas
coisas, porque uma delas se partiu.
Quando saía da loja um Equatoriano muito simpático parou o carro e veio ter
comigo. Também tinha motos e ficámos um pouco à conversa. Indicou-me um Hotel
onde ficar em Quito e falou-me no mesmo Grupo de Ajuda Motard Internacional que
quem tinha encontrado no dia anterior me tinha falado. É um grupo Sul Americano
que tem aderentes de vários países.
No dia seguinte de manhã, antes de ir para a fronteira, a meia dúzia de
quilómetros, ainda fui visitar a famosa catedral Santuario de Las Lajas que,
por fora é fantástico, além da localização, em cima de uma falésia sobre um
rio, mas o interior não me impressionou tanto como outras que tenho visto na
America Central e do Sul.
Quando estava na fila da fronteira para declarar a saída da moto da
Colômbia alguém me disse que precisava de fotocópia dos documentos e, no tempo
de as ir tirar e voltar, o homem de serviço decidiu ir almoçar. Disseram-me que
teria que esperar uma meia hora e por ali fiquei. Entretanto outro, com o ar de
que iria avançando o processo, pediu para ver a minha importação temporária e
constatou que estava fora de prazo. Na entrada tinham-me dito que era válida
para seis meses mas na prática estava passada para três meses depois dos quais
a deveria ter renovado por mais três. Como deixei cá a moto no início de Maio e
só em Setembro voltei, os primeiros três meses tinham passado e o documento
estava caducado. A solução, disse-me o homem, seria pagar uma multa de 1,8
milhões de Pesos, o equivalente a cerca de 600 Dólares. Disse-lhe que não tinha
esse dinheiro e ele pediu que esperasse pelo chefe para saber o que ele diria
mas que não estava a ver outra solução. Passados uns dez minutos veio ter
comigo. Disse que tinha falado com o chefe e que ele perguntara quanto eu
estaria disposto a pagar para resolver o problema.
Ele fez um ar de como quem diz: “estás a gozar comigo” mas ao mesmo tempo
parecia estar a tentar perceber se eu os estava a entalar, por alguma razão.
Disse-me que iria perguntar mas que pensava não haver hipótese nenhuma. Passado um quarto de hora veio o chefe falar
comigo. Não me falou em qualquer pagamento por fora, muito provavelmente por
ter achado a oferta ridiculamente baixa, mas apenas que a única solução seria
pagar a multa. Disse-lhe a ele também que não tinha esse dinheiro e, por fim,
ele saiu-se com outra solução, daquelas que só vemos nestes países de gente que
resolve os problemas à boa maneira de outros tempos:
Se quiser o que podemos fazer é eu fechar os olhos e você sair do país como
se nada fosse, sem apresentar qualquer papel. O único problema é que, se
regressar cá com essa moto vai ter que pagar a multa.
- Oh. Maravilha. Obrigado. Até à próxima.
Acho notável a frieza com que o Francisco resolve todas estas situações... Fantástico!!
ResponderEliminarQuando se nasce virado para a Lua...
ResponderEliminarBoa viagem
Ana