Fomos ver como estava a avançar a reparação mecânica do barco. A caixa de
velocidades estava fora do sítio, desarmada e o homem estava em vias de também
retirar o enorme volante do motor V12 Diesel, pois tinha chegado à conclusão que o problema eram umas passagens de óleo
entupidas no volante. Parecia estar ali um trabalho ainda para várias horas. Às
tantas ele largou o volante do motor e voltou a montar a caixa para, já noite dentro,
chegar à conclusão que teria que substituir o volante do motor. Saiu pelas nove
da noite e não regressou, para desespero do Arturo.
Entretanto, um homem que por ali estava apresentou-se como o dono da carga de
tabaco e que ele próprio também iria viajar connosco.
- É Colômbiano?
- Sim.
- E o tabaco vai para lá?
- Não. Vou carregá-lo em lanchas na fronteira para depois o levar para a
costa da Colômbia onde me esperam camiões para transportarem a carga para o
Equador.
“Isso não faz sentido nenhum”, disse-me o Canadiano quando lhe contei a história.
“Se ele vai para o Equador sairia certamente muito mais barato colocar a carga
num contentor e enviá-la por cargueiro através do canal para a costa do Pacífico”.
Enquanto estávamos por ali, durante a tarde e início da noite, íamos de vez
em quando a um bar da esquina, que tinha a música a uma altura ensurdecedora,
comprar cervejas.
Numa das vezes que lá fui pus-me a dançar com a animada dona, uma mulher de
uns 130 Kg , cabelo pintado de loiro, que achou muito divertido. Noutra dessas
idas ao bar, o homem do tabaco ofereceu-me uma cerveja. Ele próprio já tinha
bebido umas poucas e contou-me a verdadeira história do transporte. Era
contrabandista e por isso levava o tabaco para a Colômbia naquele barco.
- Depois tenho três lanchas rápidas que o levam através da fronteira. Se
quiser posso levar as motos.
- E os guardas não o chateiam?
- Não. Eu pago-lhes. Hoje em dia já não me deixam é trazer Coca, que era
muito mais rentável.
- Mesmo assim acho que é preferível levarmos as motos numa outra lancha.
Com as motos no interior do porto, o portão fechado a cadeado pelo homem da
alfandega e sem Hoteis por perto (não vi um único em Colón), tivemos que dormir
no barco, em cima de uns colchões sebentos colocados sobre uns beliches. Dormi
vestido, com o blusão a fazer de almofada. Surpreendentemente até dormi
bastante bem e, na manhã seguinte, só acordei às oito da manhã. Perguntei pelo
mecânico mas informaram-me que teria outros trabalhos e só regressava da parte da
tarde. Era sexta feira santa e tudo parecia estar fechado excepto uma ou outra lojas
chinesas de maneira que tomámos um pequeno almoço de bolachas e iogurte que tínhamos
comprado no dia anterior. Apanhámos um táxi até um Sopping Center fora da cidade
mas só o supermercado estava aberto de maneira que acabámos a ver a internet à
porta da Pizza Hut onde tinha estado uns dias antes. Voltámos pelas onze da manhã
ao nosso porto e por ali ficámos, a ler e escrever.
Pelas duas e meia da tarde saímos a pé à procura de um sítio para comer alguma
coisa. Dois polícias, que tentavam resolver um desentendimento local, quando
nos viram disseram-nos que era muito perigoso andarmos ali sozinhos e chamaram dois
colegas em bicicleta que nos acompanharam até um Kentucky Fried Chicken que havia
por perto e estava aberto.
Antes de lá sair coloquei a maior parte do dinheiro nas cuecas e voltámos a
pé para o porto, sem problemas.
O mecânico que seguiu connosco no barco contou-me mais tarde que, naquele
dia, tinham morto dois miúdos naquela rua, por desentendimentos sobre controlo
de zonas da cidade, principalmente no comércio de droga.
- Já não nos impressiona. É um problema quase diário, disse.
Ai que nervos! Isto está pior que novela mexicana. Que forra tudo bem!
ResponderEliminarBjs e boa viagem
Ana