De Playa del Carmen parti para Sul, em direcção ao Belize. Tinham-me
recomendado visitar Tulum, uns 60 Km a Sul e quando ali estava decidi ir até
Sian Ka’an, um parque natural, classificado pela Unesco como reserva da
Biosfera. É uma zona com grandes lagoas e muita vegetação, maioritariamente de
palmeiras, e uma fauna fantástica que inclui crocodilos, que vi na lagoa quando
parei em cima de uma ponte, tartarugas, lagartos, a atravessarem constantemente
a estrada, uns enormes pelicanos escuros, que parecem voar em câmara lenta e
até Panteras e Leopardos além de Javalis e muitas outras espécies. A reserva
tem uma estreita estrada de terra que segue por entre a floresta, com mar de um
lado e lagoa do outro, até uma pequena aldeia que se chama Punta Allen. São
cerca de 50 Km, grande parte em mau estado. Decidi ir lá almoçar mas, na ida, fui
depressa de mais pela esburacada estrada e, já no regresso, os parafusos que
seguram a parte de trás do quadro desapareceram, o banco e toda a traseira da
mota descaiu, e tive que reduzir drasticamente o ritmo até chegar ao alcatrão.
Nesta faixa em alcatrão os hotéis são todos de quatro e cinco estrelas com
preços a rondarem os 250 dólares por noite de maneira que segui a sugestão de
uma menina Colombiana que vendia gelados num bar e montei a tenda num camping
que havia na praia. Ela estava lá a ficar com duas filhas pequenas. Instalei-me
mesmo junto à praia, fui até ao espaço que tinham com uma mesa corrida e
ligações electricas para escrever e, pelas oito e meia da noite jantei dois
Tacos e uma cerveja no restaurante da praia. Perguntei a um homem que estava ao
balcão com ar de gerente qual era a “password” da internet e ele, sem tirar os
olhos do computador disse: “fucking tacos”. Achei que estava com um problema na
cozinha e repeti a pergunta mas ele voltou a dizer, desta vez já a olhar para
mim: “fucking tacos”. Era mesmo essa a Password.
A seguir ao jantar fui ter com a minha amiga Colombiana à loja de gelados.
Ficámos à conversa entre dois gelados e, pelas onze da noite, dei-lhe boleia na
moto para o parque de campismo. Convidou-me para tomar o pequeno almoço do dia
seguinte, com ela e as filhas. Estava uma maravilha, com ovos, panquecas e
fruta.
Desmontei a barraca e, pelas onze da manhã arranquei para Tulum à procura
de uma oficina onde reparar a moto. Lá encontrei um concessionário da Yamaha, à
falta de Honda naquela cidade, que me deixou fazer o trabalho à porta da
oficina, com o empréstimo de uma ou outra ferramenta.
Arranquei depois em direcção a Mahahual através de longas rectas traçadas
no meio de uma floresta cerrada, no extremo ocidental do Sian Ka’an. Pelas duas
e meia da tarde, cansado por dormir na tenda, parei junto a um mini mercado
rudimentar com a ideia de beber um sumo e descansar. Sentei-me num dos bancos
corridos à porta. No do outro lado estava uma mulher de ar atarracado e rabo
grande, dos seus quarenta e muitos anos e a sua mãe, já bem dentro dos setenta.
Ás voltas em pé um sueco, dos seus trinta e poucos anos, esperava um autocarro.
A mulher, curiosa, começou a fazer-me um inquérito sobre de onde eu vinha e
para onde ía e, de repente, perguntou a rir: “quer casar comigo?” ao que eu
respondi com a mesma rapidez: “quero”. Estávamos ali na galhofa quando a
vizinha da barraca do lado veio perguntar se ela queria um “picadilho” para
almoçar que ela tinha acabado de fazer. A mulher agradeceu e disse que não mas
eu virei-me para a minha noiva de ocasião e disse:
-“olhe que eu até comia o “picadilho”.
Então ela, já com o ar de “quem manda lá em casa sou eu” disse:
- “Não, vamos antes almoçar à vizinha do outro lado que cozinha
maravilhosamente e vende para fora”. E com isto levantou-se e entrou na barraca
do outro lado que tinha, num pequeno espaço, um balcão e uma única mesa com
duas cadeiras. Eu fiquei à conversa com o Sueco, que tinha fugido à neve de
Estocolmo por duas semanas. Às tantas a mulher sai de dentro da barraca da
vizinha e à porta pergunta-me: quer frango ou porco?
- “Frango”, respondi. E ela voltou para dentro. Passados uns cinco minutos
voltou a sair e com o ar autoritário a que já me estava a habituar disse:
- “Ó homem, venha lá almoçar”. E lá fui eu, sem levantar a garimpa. O
frango cozido com batatas e legumes, com um toque de piri-piri caseiro, estava
uma maravilha. O sueco, meio aparvalhado mas divertido com a situação, veio
sentar-se num banco do outro lado do mini restaurante. No fim a vizinha só
cobrou o meu almoço, que custou o equivalente a dois euros e meio. Despedi-me
de minha noiva e arranquei para Mahahual.
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