30 de março de 2017

Bacalar


Depois daquele almoço surreal deixei a estrada principal cinco quilómetros à frente da aldeia onde parara e fui em direcção a Mahahual, uma pequena estância na Costa Caribenha onde quase diariamente atracam barcos de cruzeiro que ali despejam um ou dois milhares de turistas que enchem restaurantes, esplanadas sobre a praia e mesas de massagem, onde raparigas de batas brancas esfregam homens gordos em fato de banho. Tem tudo um ar bastante bera, embora se andarmos um pouco na costa, através de uma estrada de areia, encontramos alguns bares e estalagens com melhor aspecto. Instalei-me no Hotel com o nome da cidade, um três estrelas a cair para uma, mas acabei por jantar excepcionalmente bem no restaurante de um Hostel.
No dia seguinte parti já tarde para Bacalar e, como era o primeiro dia de fim de semana, resolvi marcar estadia. Reservei, sem perceber, uma tenda de campismo, num parque em cima da lagoa. Quando cheguei perto do local, sem haver nomes de ruas ou sinais que se vissem, perguntei onde era aquela “Estrada da Reforma Agrária”. Mandaram-me no sentido contrário da lagoa e eu respondei que não deveria ser mas o homem, persuasivo, respondeu: “Por ali há outra lagoa”. E lá fui eu 25 Km paisagem dentro até uma pequena aldeia onde encontrei um homem de bicicleta que pedi para parar. Vinha de óculos escuros com um ar moderno mas tudo o resto não batia certo com aquele acessório. As calças tinham uma corda de sisal a fazer de cinto e a camisa, já sem metade do forro do colarinho, tinha vários remendos que pareciam ter sido cozidos por ele mesmo. Quando lhe perguntei pelo parque de campismo começou a desbobinar um monte de palavras sem nexo e, por mais que eu dissesse está bem, já percebi, ele não parava de falar e eu não o queria deixar a falar sozinho. Duas miúdas e um rapaz que passavam a pé foram a minha salvação. Mostrei-lhes o papel com a morada. Eles não conheciam a zona e mostraram o papel ao homem que respondeu ser escusado por não saber ler. Agradeci e segui até uma barraca mais à frente onde me informaram do erro que tinha sido levado a cometer, e lá voltei os 25 Km para tras.
Cheguei ao parque ao anoitecer. Tinha uma
situação fabulosa, em cima da lagoa mas tudo o resto era péssimo. As cadeiras à volta das mesas eram em plástico podre e pelos cantos viam-se barcos a motor abandonados e rodas de carroça partidas a fazerem de obras de arte. Um homem a querer dar um ar eficiente veio anunciar-se como proprietário e explicar que ainda não havia água quente nem internet e que estavam em obras mas que dentro de um mês aquele parque estaria um brinco. Difícil de acreditar. A mulher preparou-me um frango com ovos que era tão duro que, mesmo cheio de fome, demorou-me meia hora a engolir, ajudado por um par de cervejas. O único consolo foi terem dois quadrados de chocolate. Anunciou que iria acender uma fogueira para festejar o fim da lua cheia. E por ali fiquei hora e meia à volta do lume, primeiro na companhia de quatro miúdos ingleses sem graça nenhuma, que acabaram a tomar banho na lagoa, e depois de um casal de franceses mais interessante que viviam no México há dez anos, sem vontade de voltarem para a Europa.

Deixei o parque pelas dez e meia da manhã, depois de um pequeno almoço de mais ovos mexidos “overcooked” e passei no outro parque que o casal tinha na cidade para consultar a Internet. Aí encontrei um casal de ingleses que tinha enviado a sua BMW de Inglaterra para Nova Iorque e estavam a passear pelo México há quatro meses. Ele fez-me muitas perguntas sobre a Ásia pois têm ideias de lá ir brevemente.
Parti depois em direcção à fronteira com o Belize. Tinha combinado ficar nessa noite em casa do Cônsul português no Belize, um belizenho.





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