Em Kyoto comecei por visitar Gion, o tal bairro das Gueixas. Ás vezes
encontram-se na rua, todas produzidas mas, como não vi nenhuma, pedi a duas
meninas vestidas com trajes tradicionais para tirarem uma fotografia ao pé da
moto.
- “Não são verdadeiras gueixas? Oh, que pena”.
Deixei a moto estacionada no passeio e fui a um parque tirar umas
fotografias. Quando voltei tinha dois policias de volta da moto, a olharem
muito para a matricula portuguesa com cara de quem não sabiam o que fazer com aquele
caso. Ficaram com um ar aliviado quando eu cheguei e puderam explicar que no
Japão não se pode parar no passeio e logo me mandarem seguir, satisfeitos.
É curioso que em todo o Japão não se podem parar os carros na estrada junto
ao passeio, tendo toda a gente que tem carro obrigação de ter um espaço
previsto para o estacionar. Quando vão a algum lado têm sempre que o deixar em
estacionamentos, normalmente pagos mas nunca junto ao passeio. Até porque a
maioria das estradas só tem uma via para cada lado, com o tal traço continuo ao
meio, de maneira que não há espaço para estacionamentos. O mesmo se aplica às
motos que não podem ser paradas em qualquer lado. Tenho infringido algumas
vezes esta regra porque eles acho que não sabem como multar uma moto ou carro
com matricula estrangeira.
De Gion parti a ver o Templo dourado, que antes foi coberto a folha de ouro
pelo seu proprietário mas depois do ultimo restauro está simplesmente pintado
de dourado. A imagem é bonita porque o local onde está, junto a um lago, também
é fantástico.
Nos restauros dos templos reparei que os japoneses não se preocuparam muito
com a originalidade, aliás porque muitas vezes não sabem exatamente como era
por dentro, por exemplo. Assim fazem uns restauros à sua maneira muitas das vezes
utilizando pormenores como pedra cortada à moderna no chão ou outros pormenores
que para quem aprecia bons restauros escandaliza um pouco.
Depois do Templo Dourado ainda fui dar um passeio pela floresta de bamboo,
em Arashiyama. Muito gira.
Nesse dia deixei Kyoto pelas quatro da tarde e pus-me a caminho de Tokyo
onde saberia que só chegaria dois ou três dias depois. Evitando as auto estradas
aqui na ilha principal fazem-se médias muito baixas pois há semáforos a cada
300 metros, e como os carros se arrastam a 40 ou 50 Km/h por todas as estradas
o transito torna-se infernal, mesmo de moto. De carro nem quero imaginar o que
passam. Qualquer pequeno cruzamento tem direito a semáforos e eles, quando
calculam o tempo que se demora a fazer certa distancia, é sempre a médias de
20, 25 Km/h. De moto vou mais rápido mas muitas vezes nestas estradas fiz médias
que não ultrapassaram os 40 Km/h.
Assim, passadas duas horas tinha percorrido pouco mais de 70 Km e decidi
instalar-me num hotel que encontrei à beira da estrada.
Quando saí para jantar já passava das oito e meia e a gerente do Hotel
achou que se calhar já não me serviam. Então propôs-se vir comigo até ao
Restaurante.
- Vem jantar comigo?, perguntei.
- Não, vou só acompanhá-lo até lá. É a cinco minutos de aqui.
Nunca me tinha acontecido uma cena destas. Lá veio comigo até ao
Restaurante, pediu-lhes que ainda me servissem jantar, por a cozinha já estar
supostamente fechada, ajudou-me a escolher a ementa e despediu-se. Único.
No dia seguinte foi a mulher que limpava os quartos que se desfez em vénias
quando eu saí do quarto. Acompanhou-me até ao elevador em pequenas vénias,
sempre a dizer coisas em japonês que deviam ser maravilhosas de ouvir, chamou o
elevador para mim e, quando eu entrei fez uma única vénia mas em que o corpo
fez um ângulo de 90º na cintura e assim ficou. Temi que se desequilibrasse e se
estatelasse no chão.
Este género de cenas só se passam nestas pequenas terras de província onde,
quando aparece um estrangeiro, ficam numa excitação. Nas grandes cidades são mais comedidas e as vénias mais reduzidas, o
que é uma pena.
Que espectáculo Fernando, obrigado
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