Arranquei de Minakuchi por volta das dez e meia, como é meu costume. Não
tenho mapa do Japão porque os nomes vêm todos em japonês e por isso serve-me de
pouco. Costumo por isso ver na noite anterior no “google maps” o trajeto que
pretendo fazer e escrevo num papel as cidades por onde tenho que passar, assim
como os números das estrada a seguir. Uns e outros costumam estar escritos nos
sinais de trânsito, também em Inglês.
Neste caso, a caminho de Tóquio, não havia muito que saber, porque teria
simplesmente que seguir a estrada nacional nº1 que raramente tem mais que uma
faixa para cada lado, de maneira que tenho feito pouco mais de 200 Km por dia.
Neste dia aconteceu uma cena caricata. Por vezes nestas estradas aparecem
cruzamentos, assinalados, em que a estrada segue para a esquerda ou direita e
não em frente. Tenho que ir com uma certa atenção para não me enganar.
Desta vez distrai-me e fui em frente em vez de virar à esquerda. Comecei a
achar estranho a estrada estar a tornar-se estreita de mais para uma nacional 1
e o movimento baixar drasticamente. Achei que me tinha enganado mas decidi
andar mais um pouco para ter a certeza. Até que... entrei pelas instalações de
uma central nuclear. O portão era largo e estava aberto de maneira que nem
reparei que existia. Ouvi uma voz num altifalante que até parecia em português
a dizer : Onde vai?. Se calhar é parecido em japonês, como algumas outras
palavras, mas achei que não era para mim.
Continuei por ali dentro até começar a ver mais porta paletes e camions na
estrada que carros. Constatei que me tinha enganado e dei a volta só então
percebendo que aquilo era uma central nuclear. Fiquei chocado com o que vi e
tirei duas ou três fotografias, felizmente desta vez sem ser preso, como me
aconteceu no Irão. No portão estava um homem à minha espera que me mandou sair
com ar de mau e sem qualquer ameaça de vénia.
O que me chocou foi o estado lastimável em que se encontrava a Central
Nuclear, com tubos e depósitos cheios de ferrugem.
O que se passa é que depois do desastre de Fukushima, em 2011, o governo
japonês prometeu fechar todas as centrais nucleares no país. Só que é mais
fácil dizer do que fazer. 30% do fornecimento de eletricidade no país estava
baseado nas Centrais Nucleares e para acabar com elas tinham ou que ter
barragens e outra produção limpa de energia em quantidade suficiente, o que não
é o caso, ou passarem a produzir eletricidade queimando combustível, o que iria
contra todos os recentes acordos internacionais a nível de poluição ambiental.
Penso que sejam esses os motivos pelos quais eles mantêm uma ou outra central
nuclear em funcionamento, enquanto não tiverem uma alternativa viável. O
problema é que, como esta, muitas estarão em péssimo estado e não as podem
renovar pois se as desmontam já não faz sentido construir novas, depois de
anunciarem que as iriam eliminar. Assim vão mantendo alguns destes monos em
funcionamento. Esta, pelo que li depois de lá passar, estará desativada mas
continua com muito movimento pois não deve ser fácil verem-se livres dos
materiais radioativos quando decidem acabar com elas.
O problema é que o país tem tremores de terra fortes a cada 5 anos e, se o
de 2011 provocou aquele desastre, pelo tsunami que veio atrás, estou convencido
que se calha terem um com o centro num sítio como esta central nuclear de
Hamaoka aquilo desmancha-se tudo. Pelo menos é a ideia que dá ao olharmos para
ela e aprendi que uma coisa para estar
em bom estado tem que, em primeiro lugar, aparentar estar em bom estado.
Neste dia passei ainda por um simpático casal, cada um na sua Harley.
Quando passei por eles disse-lhes adeus e o rapaz para me corresponder o aceno
quase se estampou. Parei mais à frente numa loja para comprar água e eles
viram-me e também pararam. A miúda andava de moto há um ano e ele, pelo que vi,
devia andar há um ano e dois dias. Bom espírito.
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