Quando cheguei ao
circuito de Sepang não tinha passe para entrar no “padock” que era onde me
interessava ir mas, como bom português, convenci os vários porteiros a
deixarem-me passar e, já lá dentro, fui ter com o Miguel Oliveira, o piloto português
que corre nas moto3, que tratou de me arranjar um passe.
Fui depois falar
com o diretor da equipa Honda de motogp para tentar organizar uma fotografia
onde estivesse eu, a moto e os pilotos da marca. Ele concordou com a ideia e
pediu ao Marquez e ao Pedrosa para, ao saírem do circuito fazerem a fotografia
comigo e a moto, que entretanto fui buscar para dentro do “padock”.
As corridas foram
espetaculares e só foi pena o Miguel ter caído na primeira volta das moto3. O
Marquez voltou a ganhar nas motogp e o Rossi, com o mesmo entusiasmo dos miúdos
de vinte anos, ficou em segundo.
Quanto às motogp
em si cada vez que as vejo fico impressionado com a sua aceleração e velocidade
em recta, superiores às de um Formula 1.
No Domingo voltei
a jantar no “Hard Rock”, especialmente animado no fim de semana de motogp, e
segunda feira ainda fiquei por Kuala Lampur para visitar as Batu Caves, umas
grutas naturais enormes à entrada da cidade. Desiludiram-me pelo mal tratadas e
sujas que estão. Fui ainda procurar uns pneus novos para a moto, que os de
tacos que tinha montado na Índia e que tanto jeito deram estavam no fim, mas não
os consegui encontrar.
Arranquei assim
na terça para Malaca com a curiosidade de constatar se ainda haveria algo de
português na cidade que Afonso de Albuquerque conquistou em 1511 e que se
manteve em nossa posse até os holandeses nos terem de lá corrido, 130 anos
depois.
Quando cheguei
dei uma volta pela cidade e parei quando vi um chamado Portugis Hotel, com as
cores da nossa bandeira à porta. Embora fosse uma espelunca e a dona chinesa, a
mulher foi simpática e achou graça eu ter vindo de Portugal na moto de maneira
que me fez um preço especial e por ali me instalei.
O Hotel, de
tectos baixos, tinha alguns móveis bons mas mau aspecto e sujidade por todo o
lado.
A chinesa
recomendou-me o Spa do primeiro andar e deu a entender que a massagista de
serviço fazia mais que massagens.
Perguntei-lhe o
que havia mais de Portugal em Malaca e indicou-me um bairro vizinho de
descendentes de portugueses.
Estava a dar uma
volta pelo bairro de fraca qualidade de construção quando parei, junto ao mar e
de dois homens sentados no que já teriam sido bons sofás, agora apodrecidos
pela exposição aos elementos, debaixo de um telheiro no que parecia ser um
poiso habitual. Perguntei-lhes se havia alguma sede portuguesa e um deles,
quando lhe disse que era português, pediu para me sentar ao lado dele e começou
a falar comigo em português, não perfeito mas compreensível.
O seu nome era
Jorge Alcântara e era descendente dos portugueses que cá tinham ficado no
século XVI. Disse-me que a língua tinha passado através das gerações e ele
também a ensinara aos filhos de maneira que em casa falavam sempre em
português.
A comunidade de
descendentes são cerca de 1200 pessoas, a maioria já com muitas misturas de
raças, como é nosso costume.
Estivemos ali uma
meia hora à conversa e depois ele pediu a um amigo, também supostamente
português mas que falava muito pouco, para me guiar na sua “scooter” até à sede
do “Portuguese Settlement”, um local com um ar decrépito, um restaurante
chamado Lisbon mas onde as refeições são Malaias, e um Museu com meia dúzia da
tarecos. O que foi um Lisbon Hotel, com bom aspecto, só durou dois anos como
Hotel e foi depois vendido a uma Universidade que lecciona ali.
A presença
portuguesa em Malaca neste século XXI tem um ar bastante miserável mas pelo
menos existe e resistiu 500 anos. Para além disso algumas das nossas palavras
ficaram na língua Malaia, como Escola ou Manteiga.
Almocei no
restaurante do “Portuguese Settlement” pelas quatro e meia da tarde uns bons camarões
em molho de ananás muito pouco portugueses e regressei ao Hotel.
Pelas nove da
noite decidi ir jantar só uma sopa porque tinha almoçado já tarde.
Recomendaram-me
um restaurante perto onde pedi a única sopa disponível, com esparguete.
“E para beber?”
“Um sumo natural”
“Isso não temos”
“Então o que
têm?”
“Água, sumos
enlatados ou chá de ervas”
Um pouco
contrariado optei pelo chá de ervas. Quando o criado me perguntou se queria
quente ou frio preferi quente por ter medo de beber água neste sítios sem ser
fervida.
Sabem quando os
criados, satisfeitos, nos dizem: “boa escolha”?
Neste caso o homem
olhou para mim com a cara exatamente contrária, como quem procura uma expressão
de lucidez na minha face sem conseguir encontrar.
Quando chegou o
que tinha encomendado percebi a razão de me considerar maluco. É que o caldo da
sopa que vinha na tijela com o esparguete e o chá quente, servido no copo, eram
exatamente o mesmo líquido.
Pus umas pingas
de picante na sopa para lhe mudar um pouco o sabor e lá bebi esse chá à colher
e o outro pelo copo sem me queixar.
Esse estilo para chegar ao Paddock não é de bom português, que eu não conseguiria entrar de certeza, é estilo à Sande e Castro!
ResponderEliminarViu a fortaleza de Malaca, a Famosa, da qual só resta a Porta de Santiago?
Boa viagem, Ana
Não porque só soube quando já tinha partido mas pelo que vi de fotografias recentes acho que nem a porta existe. Só resta um pequeno pedaço de fortaleza.
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