Acordei com o
quarto cheio de fumo e um cheiro terrível a fritos. Abri a porta que dava
acesso à casa de banho e dei com a origem do problema. Este pequeno
compartimento junto à casa de banho tinha uma janela sem vidro que tinha vista
direta para o pátio onde cozinhavam. Abri a porta do quarto para entrar ar mas
todo o Hotel estava debaixo desta nuvem de fumo. Vesti-me rapidamente, tirei a
moto da sala de jantar, onde tinha passado a noite, e deixei aquele pesadelo
pouco passava das oito horas, a caminho da fronteira com o Bangladesh, a meia
dúzia de quilómetros.
Carimbei
passaporte e Carnet da moto na parte Indiana da fronteira mas, ao chegar ao
lado da fronteira do Bangladesh disseram-me que não poderia entrar com a moto
sem uma garantia bancária e que os bancos estariam fechados sexta e sábado.
Insisti que o Carnet representava uma garantia bancária mas sem efeito. Depois
de vários contatos telefónicos com os seus superiores, separados por longos
intervalos, decidiram que eu não poderia entrar com a moto e teria que voltar para
a Índia. Falei ao cônsul português no Banglasdesh mas ele estava fora do país e
não me ligou nenhuma.
O remédio seria
voltar à Índia e dar a volta ao Bangladesh pelo Norte através das terríveis
estradas que tinha percorrido quando vim do Butão para Calcutá. Resignado,
fiz-me à estrada, já passava do meio dia, com a ideia de mesmo assim tentar a
entrada no Bangladesh através de uma fronteira mais pequena.
Rumei a Norte
através das esburacadas e movimentadas estradas que conhecia do mês passado e, passados
uns 100 Km, ao sair para a berma para não apanhar com um camião de frente, esta
tinha um degrau da altura dum passeio. A berma acabava de repente e tive que
voltar à estrada sem ter espaço para parar. Bati de lado contra este degrau e caí
para a faixa de rodagem. Não rodava a mais de 40/50 Km/h, assim como o camião
que acabara de ultrapassar e que teve que travar a fundo para não me “passar a
ferro”. Mais uma vez não me magoei e tenho que agradecer ao concessionário
Honda “Motoboxe”, que me forneceu este fantástico fato da “Spidi” e o capacete “Shoei”,
que têm ajudado a proteger-me. A moto partiu a maneta do travão e as malas em
alumínio voltaram a sofrer. Populares vieram rapidamente ajudar-me a levantar a
moto e lá arranquei com a maneta reduzida a um taco.
Não tinha
percorrido mais de 30 Km quando, ao passar por um concessionário Honda com aspecto
moderno e limpo, me chamaram. Veio mesmo a calhar. Tinham naquele fim de tarde
uma cerimónia por fazerem a entrega da primeira 250R que vendiam, uma pequena
monocilindrica com aspecto racing e pintura a condizer, com as cores da Repsol,
a imitar as motos de Grande Prémio. Ficaram radiantes quando viram a “Cross
Tourer”. Trataram de me trocar a maneta de travão que, por sorte trazia comigo
e aproveitei para pedir que mudassem também as pastilhas do travão de trás e
endireitassem a mala que ficou amolgada. Depois colocamos a moto no stand e
eles ligaram ao patrão que veio rapidamente e ao responsável de zona da Honda
que estava longe mas pediu fotografias. Passada uma hora fomos em caravana, eu
e duas ou três motos novas, atrás de uma camioneta decorada com as cores do
concessionário e um homem dentro num altifalante a anunciar maravilhas das
novas Honda. Assim percorremos a cidade, a 10 à hora, até um segundo stand que
tinham no centro, onde voltei a entrar com a moto. Senti-me um palhaço de circo
mas pelas oito da noite lá me guiaram até um Hotel razoável onde fiquei. Estava
em Krishnagar.
Mas que grande pinta... espero que esteja a tirar algumas fotos disso tudo. Vamos ter direito a livro? (posso fazer a revisão!)
ResponderEliminarDesejo-lhe sorte para entrar no Bangladesh.
Bjs
Ana
Não tantas como devia, Ana
ResponderEliminarEstá contratada.
Não está fácil aqui na fronteira. O mais provável é ter que dar a volta ao país pelo Norte
Estou à 2 dias a ler tudo do inicio, uma vez que até agora só tinha lido o material publicado no FB e salteado... acho que isto tem mesmo de passar a livro.
ResponderEliminarAo contrário de alguns críticos o que mais valorizo é ler a sua opinião pessoal sobre os factos, concorde eu ou não com ela, é a sua!
Escrevo estas palavras atrasadas sabendo que actualmente está nos "states". Desejo boa continuidade nesta sua "aventura de uma vida" que tanta inveja causa! :)
Abraço
Miguel Ala Silva