Eram quase cinco da tarde quando resolvi procurar onde ficar ali por N’zendo. Encontrei um Hotel razoável mas sem restaurante. Não havendo nenhum na vila jantei a metade da sandes de carne assada que me sobrara do almoço acompanhada de uma cerveja, que isso tinham.
De manhã regressei à bomba de gasolina mas o auto-tanque não havia chegado, nem tinham previsões. Acabei por convencer o gerente a encher-me o depósito com parte da reserva que sempre mantêm.
Parti então para M’banga Congo, a cidade mais interior, perto da fronteira com o Congo, por onde pretendia entrar no país. A estrada é estreita mas na maior parte do trajecto está em bom estado embora com a erva alta a crescer até ao alcatrão. A paisagem é mais verde para o interior.
Passei por um camião virado na berma da estrada. Parei para fotografar e o condutor contou-me que, numa noite de muita chuva, o camião carregado tinha começado a patinar na subida escorregadia, por nela secarem peixe. Ele não conseguira evitar que fosse recuando até que, com as rodas bloqueadas pelos travões, ficou sem direcção assistida e caiu, em marcha atrás, para a ribanceira. Manteve-se direito mas quando, passados uns dias, o patrão enviou outro para mudarem a carga, tombou. Os dois homens estavam ali há um mês, à espera que os viessem rebocar.
- E de que se alimentam?, perguntei.
- De mandioca que os agricultores da zona nos vão trazendo. E mostrou-me as panelas sujas e a fogueira na beira da estrada onde a cozinhavam.
Segui até M’banza Congo, uma pequena cidade com muito lixo nas ruas, como a maioria das cidades angolanas.
O Hotel que encontrei não tinha obviamente internet, nem a maioria da população sabe o que é, mas consegui comprar um cartão no representante local da Unitel.
O pequeno almoço estava anunciado a partir das sete. “Em ponto”, disse-me a menina da recepção. Queria sair cedo pois não sabia quanto tempo demoraria na fronteira nem o estado em que estavam as estradas no Congo. Às sete e meia ainda estava à espera que chegasse o pão.
- Não têm manteiga?
- Não. Acabou
- O que há para por no pão?
- Só essas carnes frias.
Comi meio pão com chourição e levei a outra metade para o caminho.
Parei na vila para comprar água e constatei que tinha deixado o aparelho de “Spot” (localização) no Hotel de maneira que lá voltei e, com isso, eram oito da manhã quando saí.
Os 60 Km até à fronteira têm partes muito esburacadas.
Na parte angolana da fronteira pediram-me o passaporte e perguntaram se tinha visto par a República Democrática do Congo.
- Não. Na embaixada em Luanda disseram-me que não precisava pois como estava a passar para Cabinda, na fronteira dar-me-iam um visto de transito.
O guarda torceu o nariz e mandou-me falar com o chefe. Este perguntou-me quem me tinha dado aquela informação. O nome do funcionário da embaixada que eu referi coincidia com o que um casal de franceses ali apresentara no dia anterior com a mesma informação. Os congoleses mandaram os franceses de volta a Luanda e, depois de os contactarmos a partir do lado angolano, deram-me o mesmo destino.
Decidi tentar outra alternativa de que tinha ouvido falar para chegar a Cabinda. Tratava-se de ir até ao porto de Soyo, no Norte de Angola, junto ao rio Zaire, que separa o território da República Democrática do Congo e aí tentar contratar uma lancha que me levasse a moto as vinte ou trinta milhas que separam aquela cidade de Cabinda.
Pelo caminho de regresso do Luvo, uns 300 Km de volta à costa, parei junto ao camionista que havia tido o acidente e que já tinha conseguido endireitar o camião com a ajuda de outro mas continuava na ravina.
Ao entrar em Soyo um rapaz num pequeno furgão, viu-me com ar de procurar alguém a quem pedir informações, parou e perguntou-me o que pretendia. Disse-lhe que queria chegar ao porto para encontrar uma lancha que me pudesse levar a moto para Cabinda. Ele prontificou-se a seguir na minha frente e entramos num bairro muito degradado de ruas enlameadas e cheias de lixo. Entramos num portão grande com ar de não ser fechado há anos. Uma rampa descia até uma praia com as margens amontoadas de lixo e várias lanchas em madeira de fundo chato encalhadas na areia a carregarem mercadoria. Junto uma série de barracas em madeira, de ente as quais um posto de guarda alfandegária, com dois homens e uma mulher fardados. Num toldo, o chefe da Alfandega, à paisana, conversava com amigos.
Com a ajuda do simpático homem da carrinha que ali me havia levado tentámos negociar um preço para o transporte da moto com dois dos comandantes das barcaças. Um começou por pedir 40.000 Quanzas, o equivalente a cem Dólares para depois dizer que não levaria a moto pois estavam proibidos de o fazer, enquanto o outro dizia que arriscava mas por um valor de 150.000 Quanzas, que mais tarde baixou para cem. Eram cinco da tarde, havia muita confusão no porto e senti que eles se aproveitavam de eu não ter alternativa para o transporte de maneira que lhes disse que não, que regressaria na manhã seguinte para estudarmos melhor o assunto.
Bom texto!!
ResponderEliminarNas fronteiras é sempre complicado, abracinho