Os tripulantes revezaram-se de vigia a noite toda enquanto o barco navegava rio abaixo. Deitei-me pelas onze e meia. Às cinco e meia da manhã acordei com dois tiros. Ainda era de noite. Houve um reboliço geral mas todos se mantiveram nas redes. Dei um salto da cama e vim à ré perguntar o que se passava. Uma lancha ter-se-ía aproximado perigosamente do barco e o atirador de serviço deu dois tiros para o ar, para mostrar que estava armado e pronto a disparar. A lancha afastou-se.
Quando chegámos a Belém contaram-nos que outro barco tinha sido atacado pelos piratas naquele local, duas horas depois de passarmos.
De dia a viagem tranquiliza-se e podemos apreciar as margens exuberantes da floresta equatorial, com cabanas de Índios junto ao rio e, surpreendentemente, uma ou outra igreja das que proliferam pelo país.
Nos três dias que passei no barco conheci várias pessoas. Um pai e filho descendentes de japoneses que, embora ambos já tivessem nascido no Brasil, vivendo em pleno Amazonas, eram típicos japoneses, não só fisicamente como mentalmente: calmos, discretos e civilizados, sendo brasileiros de nacionalidade, nada tinham a ver com o típico brasileiro, extrovertido e espalhafatoso. Curiosamente, numa das poucas vezes que visitaram o Japão, a única filha apaixonou-se por um japonês e por lá ficou casada.
Um típico brasileiro era o Celínio. Quando conversávamos o homem disse ser bisavô.
- 70
- Mas parece 55.
- É que eu faço plástica. Vou agora fazer outra.
- E sendo bisavô quantos filhos tem?
- 20
- 20?? De quantas mulheres?
- Oito são da mesma. Os outros fui “picando” por aí.
E foi-me mostrando fotografias de vários dos 20.
- Esta tem 22 anos. Ainda não a conheci mas trocamos mensagens muitas vezes. Fui muito bom pai para ela. Sempre lhe enviei “grana”.
- E que idade têm todos esses filhos?
- A mais velha 46 e a mais nova dois anos.
- Você é muito conquistador e tem que ter dinheiro para alimentar toda essa família.
- Sabe, é que mulher não gosta de homem. Quem gosta de homem é “veado”. Mulher gosta é de “grana”.
Palavras sábias
ResponderEliminarHa, ha, ha.
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