No dia seguinte saí a caminho da loja de computadores mas reparei que o suporte da mala esquerda estava novamente solto. Desta vez perdera um dos parafusos e o outro partira-se. Como me enganei no trajecto para a loja parei junto a uma oficina auto de serviços rápidos para procurar a rua no GPS do telemóvel. Um dos donos veio cá fora, perguntou o que eu procurava e indicou-me o caminho. Perguntei-lhe se sabia onde poderia fixar o suporte da mala e ele disse-me que entrasse com a moto, pedindo a um dos empregados que visse se podia reparar aquilo.
- O meu irmão também tem motos. Vai gostar de o conhecer. Vou ligar-lhe.
E passados dez minutos apareceu o Armando, um tipo com quase dois metros que me apresentou a filha, nos seus 30 anos e da mesma altura que o pai. Propôs-se logo irmos comprar os parafusos para resolver o problema enquanto o mecânico retirava o resto do que se tinha partido. Pelo caminho disse-lhe que precisava também de pneus e tratámos de procurar quem os tivesse.
Voltámos à oficina já com os parafusos e os pneus encomendados para serem montados da parte da tarde. O Armando sugeriu que, se eu ficasse em Cuiabá essa noite, poderia dormir num pequeno apartamento que ele havia construído num armazém.
Com o suporte finalmente bem fixo fui ver o que se passava com o computador que, infelizmente, não tinham conseguido reparar, almocei num shopping center por perto e fui montar os pneus novos que os que tinha montado na Argentina, usados, já estavam nas últimas, para além do facto de desta vez voltar a precisar de pneus de todo o terreno, não só para percorrer a Transpantaneira, como para enfrentar as estradas de terra, muitas delas em mau estado, que me levariam ao Amazonas, para onde pretendia seguir.
Enquanto montava os pneus conheci um “motard” que me disse para aparecer na manhã seguinte numa conhecida oficina de motos onde iriam assar um boi para o almoço.
O Armando também conhecia os donos do boi e, antes de me guiar até ao tal apartamento do seu armazém, passámos por lá ver os preparativos. O homem encarregue de cozinhar o boi tratava de lhe cortar as pernas com um serrote e colocava a carcaça num espeto sobre um improvisado churrasco gigante. O espeto estava ligado a um motor eléctrico cuja desmultiplicação, segundo o Edy, o fazia rodar precisamente a quatro rotações e um quarto por minuto, o segredo para o boi assar lentamente sem que dê tempo à gordura para pingar. Depois, com uma enorme seringa injectou em várias partes do boi, ainda cru, o tempero.
Depois desta visita aos preparativos para a festa do dia seguinte, o Armando levou-me ao tal armazém. Era num local sinistro, em que atravessávamos uma espécie de pequena favela para lá chegar. Já passava das oito da noite e a minha ideia era deixar a mala, ver se estava tudo bem com as roupas da cama, e partir jantar a qualquer lado.
- Não é perigoso eu sair daqui à noite na moto, Armando?
- Não. Sabe porquê? Está a ver este bar aqui ao lado que está fechado?
- Sim.
- Era de um vizinho meu que matou todos os bandidos aqui da zona. Agora já não há perigo.
- Era?
- Sim. Ele morreu há uns meses.
- Não se sabe. O filho também tinha morrido dois meses antes sem se saber como.
- Está bem. Então acha que ele matou mesmo os bandidos todos da zona?
- Sim. Isto agora é um local seguro.
E lá saí com a moto jantar a uma esplanada por perto e regressei sem problemas.
Dormi bem no apartamento do armazém, com um imprescindível ar condicionado ligado. Aqui a temperatura nunca baixa dos 30º à noite. De dia é superior.
Quando, no dia anterior, debaixo de 35º me queixei ao Armando que estava muito calor ele respondeu:
- 35º aqui é frio. Normalmente está sempre acima de 40. O ano passado tivemos um pico de 47º. Se não fosse a fraca humidade morríamos.
Ai que gostoso, tudo! O boi, o local do apartamento, a matança dos bandidos,a temperatura, a humidadezinha ou umidade como se diz por aí.
ResponderEliminarGosto da placa de velocidade, não seja um abusador!
Ana