No dia em que saí de Santiago, com o tempo que perdi a ir ao aeroporto
levantar as pastilhas de travão, percorri só 200 Km. È uma zona de grandes
campos de vinhas que se estendem, umas a seguir às outras, por largas dezenas
de quilómetros. Quando acabam as vinhas começamos a ver plantações de cereais e
legumes em terra que se adivinha fértil e com muita água. Fiquei na pequena
cidade de San Fernando. No dia seguinte continuei para Sul pela Pan Americana
até Victoria, já a cerca de 600 Km a Sul
de Santiago, e rumei depois para Oriente. Em Curacautin parei numa pequena
oficina de carros e pedi se lá podia mudar as pastilhas de travão da moto
utilizando a ferramenta deles, ao que me disseram logo que sim.
Segui depois por uma parte do país linda porque muito verde. Por entre a
vegetação vamos vendo montanhas com os topos cobertos de neve. Parece estarmos
na Suiça.
Em Manzanar fiquei num Hotel que é principalmente utilizado para grupos que
ali passam o dia a fazer actividades como caminhadas e montanhismo mas têm
também meia dúzia de cabanas montadas em cima de árvores mas com optimas camas,
aquecimento, etc.
Fiquei numa delas, no meio da floresta, com um rio de enorme corrente a
passar pouco abaixo que me deixou adormecer ao som da água a bater nas pedras.
Pela manhã atravessei as montanhas junto às zonas cobertas de neve, embora
a temperatura não descesse dos 14º, e passei a fronteira para a Argentina.
Percorri pouco mais de 400 Km e parei em Neuquén.
Tinham-me recomendado visitar a Peninsula de Valdés, mais a Sul, na costa
Atlantica, que é um enorme parque natural cujas costas acolhem Pinguins e Leões
Marinhos enquanto as águas próximas são habitat de baleias e orcas.
Desci assim a caminho do Sul pela Patagónia de longas rectas através de planícies
praticamente desertas onde se levantam ventanias fortíssimas que me obrigavam a
grande esforço para manter a moto na estrada, principalmente quando acabava de
ultrapassar camiões, que me protegiam do vento, e levava a “pancada” lateral de
repente. Uma luta constante.
As distancias entre cidades, sem absolutamente nada pelo meio, desde casas, comercio, bombas de gasolina ou até
sinal de telemóvel, estendem-se por duzentos ou mais quilómetros. No início de
uma destas etapas, com gasolina que calculei para cento e poucos quilómetros,
perguntei se haveria uma bomba pelo caminho ao que me indicaram uma a 25 Km.
Passaram 25, 30, 50, 80, 100 Km sem que encontrasse qualquer bomba de gasolina
e fiquei preocupado. Vi uma pequena quinta com um ar quase abandonado e fui até
lá ver se tinham alguma que me vendessem. Depois de quase ser atacado por um
Pitbull, que enfrentei com um trapo enrolado na mão que apanhei de cima de um
bidão, lá apareceu um homem de longas barbas que agarrou o animal e me informou
que só usavam gasoil.
Continuei, estrada fora, agora sem passar dos 90 Km/h, em direcção a uma
cidade que estava a 100 Km quando a moto já indicava uma autonomia de apenas
70.
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