A meio da manhã seguinte regressei aquele porto de praia imundo para tentar renegociar o transporte da moto. Falei primeiro com o responsável da Alfandega para confirmar que o autorizavam, sabendo que as frágeis lanchas, carregadas até mais não poderem, não estão autorizadas a levar passageiros, por questões de segurança.
Depois de há dois meses uma se ter quase voltado no mar quando decidiram nela transportar uma carrinha de nove lugares, a Capitania proibira o transporte de qualquer veículo, com os donos dos barcos a terem medo de infringirem a lei e serem multados.
- Moto de turista é diferente, disse o homem da Alfandega ao dono do barco. Essa podem levar que eu autorizo.
- Eu preciso de um documento a confirmar isso.
- Pode levar que eu estou dizendo. Eu sou a autoridade.
E lá consegui negociar um valor de 45.000 Quanzas, incluindo carregar a moto ali e descarregá-la na praia de Cabinda, um processo feito por seis homens que pegam a moto em peso e a içam por cima da ré, depois de retirarem os motores fora de bordo da embarcação.
Deixei a moto com a maioria das bagagens entregue aos homens e parti de capacete na mão à procura de um taxi que me levasse de passagem pelo pequeno Hotel buscar a mala que lá havia deixado, a caminho do aeroporto de Soyo.
Entrei no pequeno Hyundai que parecia desfazer-se e perguntei quanto me cobraria pelo trajecto.
- 200 Quanzas (cerca de 40 centimos)
- Tudo bem, siga
- Não se importa que eu leve mais passageiros?
- Não
E logo entrou outro homem para o banco de trás. Ainda na estrada de terra embarcou mais um passageiro e lá segui a caminho do aeroporto.
Cheguei lá às 13,15.
- Só uma das quatro ou cinco agencias de venda de bilhetes tinha lá um homem.
- O “Check in” já fechou. Terá que aguardar para amanhã para voar.
- Não posso. Tenho que seguir hoje que a minha moto chega à praia de Cabinda amanhã logo pela manhã.
- Espere aqui. E o homem seguiu falar com o guarda que estava à porta do aeroporto
Como a conversa demorava fui ver o que se passava. O guarda supostamente falava com o homem que tratava do “Check in” a pedir que regressasse.
- O senhor espere ali no escritório que estamos a ver se é possível.
Ao regressar informou-me.
- A única hipótese de embarcar neste voo é o senhor comprar um bilhete de executiva.
- Executiva??? Mas isto não são pequenos aviões? Têm classe executiva?
- O senhor não está a perceber. Quando nós dizemos executiva queremos dizer que o senhor tem que pagar preço de candonga. Não se esqueça que o voo está fechado e temos que chamar as pessoas de volta para tratarem do assunto.
- Mas quem vem de volta? O voo não parte dentro de cinco minutos, às 13,30?
- Sim parte, mas o senhor para embarcar tem que pagar o bilhete de executiva.
- Eu sei que o bilhete normal são 12.00 Quanzas. Quanto custa o de executiva?
- 25.000 Quantas
- Não pago. O máximo que pago são 20.000.
- Dê-me o dinheiro que vou tratar do assunto.
- O voo não é agora?
- Está atrasado. Já segue para a sala de embarque.
Na sala de embarque esperavam, pacientemente, uma dúzia de passageiros preparados para subir a bordo de um pequeno bimotor a hélices de 18 lugares. Passou mais de uma hora até vermos aterrar o único avião daquele aeroporto.
Pelas três da tarde entrou na sala um preso, com as mãos algemadas atrás das costas, acompanhado por um guarda fardado e dois à paisana. Atravessaram os quatro a sala e dirigiram-se de imediato até à porta do avião, que entretanto desembarcara a meia dúzia de passageiros que tinham vindo de Cabinda, uma viagem de onze minutos.
Depois de algumas “demarches”, o preso entrou no avião, sempre algemado, seguido dos dois guardas à paisana.
Chamaram-nos para o embarque. O preso havia sido sentado na ultima fila, com um dos guardas ao seu lado, do outro lado do estreito corredor, e o segundo na frente do primeiro.
Como fui o ultimo a entrar e as pessoas pareciam querer ficar o mais afastadas do preso possível, acabei por ficar no banco mesmo à frente do homem. Um miúdo, dos seus sete ou oito anos, sentado duas filas à frente do lado contrário, olhava por vezes timidamente para trás, com ar assustado por presenciar aquela cena.
Fecharam a pequena porta e colocaram os motores a trabalhar. O guarda que estava ao meu lado anunciou que iria dormir um pouco e logo o de trás lhe comunicou:
- Não podes. Não te esqueças que estás em trabalho.
A viagem do Soyo para Cabinda dura apenas 11 minutos e o avião levanta o que não parecem ser mais de uns 300 ou 400 metros. Vemos o magnifico estuário do Zaire e voamos uns minutos junto à Costa até aterrarmos em Cabinda.
Continuação de boa viagem,bjs
ResponderEliminarEra giro ir pondo um mapa com os trajectos. Fui ver Soyo e Cabinda e demoraria, pelo google maps, 11 horas e mais de 600 kms.
ResponderEliminarMas de qualquer forma, de avião... arriscado!
Boa viagem
Bjs, Ana
Só que desses 600 Km eu fiz 400, até à fronteira do Luvo, junto à RDC. Como não me deixaram passar voltei para trás e fui para o Soyo
EliminarTem razão. Vou tentar publicar um mapa. É pena não ver o Facebook também porque lá publico pequenos filmes. Alguns bem divertidos. Os seus filhos não têm FB?
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