No dia seguinte saímos os cinco do Hostel pouco passava das oito. Duas das brasileiras traçavam os programas. Fomos primeiro visitar umas grutas com muitas estalagtites e estalagmites, cada um com a sua lanterna na mão. Depois seguimos para uma lagoa fantástica, de água transparente, onde tomámos banho, com as brasileiras a tirarem centenas de fotografias que postavam directamente no Instagram enquanto eu e a francesa apreciávamos mais a paisagem e o banho.
Acabámos por almoçar no restaurante daquela Fazenda e, da parte da tarde, visitámos mais uma lagoa subterrânea perto e, depois, fizemos 70 Km em sentido contrário ao Hostel, à procura de uma bomba de gasolina de uma vila onde nos disseram que ainda haveria gasolina.
Quando lá chegámos e constatámos que tinham gasolina festejámos com um brinde de …. Coca Cola.
Comprei um depósito de água de 25 litros vazio e levei também gasolina para atestar a moto.
Entretanto, uma das empregadas do Hostel, uma preta linda, com um metro e oitenta, dos seus trinta anos, que eu havia elogiado, tinha-se apaixonado por mim. Apareceu ao fim da tarde, bem arranjada e penteada, com um vestido que parecia saído das mãos de um costureiro francês, a convidar-me para uma festa. Disse-lhe que parecia uma princesa mas já tinha combinado jantar com as brasileiras e talvez lá fosse ter mais tarde. Fez um ar triste e lá arrancou, com amigos. Lembrei-me entretanto que princesa era um posto abaixo do dela pois por lá todos a tratavam por Rainha.
- Rainha de quê?, perguntei ao rapaz da recepção.
- Rainha do Quilombo
- Quilombo? O que é isso?
- São comunidades de descendentes de escravos que fugiam das fazendas e formavam pequenas aldeias na floresta. A escravatura acabou mas eles continuaram a viver na floresta, mais evoluídos mas muitos ainda sem electricidade ou água corrente. O pai dela era o Rei do Quilombo e, quando morreu, herdou ela o título por ser a filha mais nova.
Não apareci na festa mas, no dia seguinte, quando ela veio perguntar, com ar amuado, porque eu não tinha lá ido indaguei um pouco mais sobre a sua vida. O pai, como rei do Quilombo, tinha quatro mulheres, das quais teve 24 filhos. Da mãe dela foram 17 e ela era a mais nova dos 24, por isso ficou a rainha, pois a ideia é prolongarem os reinados o mais possível. Convidou-me a visitar o Quilombo mas eu estava de partida.
- O seu pai é que sabia viver. Quatro mulheres só para ele escolher cada dia com qual ficar.
- Eu não concordo nada com isso, respondeu ela já modernizada. Se o meu homem tiver outra mulher, eu também arranjo outro homem. Hoje em dia os direitos são iguais para homens e mulheres.
Arranquei, essa manhã, a caminho da Chapada dos Veadeiros, que o tempo estava a esgotar-se. Deixei a Rainha do Quilombo com um ar tristíssimo.
Ainda anda longe mas vai ou foi ao Jalapão?
ResponderEliminarTem paisagens do outro mundo
Boa viagem
Bjs
Ana
Claro que fui. Dei uma volta grande por lá. E até visitei a fábrica porque o engenheiro responsável pelo projecto da moto tinha pedido que lá passasse. Tem paisagens fantásticas, sim, e as pessoas são muito simpáticas e civilizadas embora quase ninguém fale inglês. Bjs.
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