30 de novembro de 2017

Santa Maria


Acabei por sair de Cusco só ao meio dia pois de manhã tive que tratar de vários mails e escrever.
Tinha feito pouco mais de vinte quilómetros quando o GPS do telemóvel, que levava ligado, me mandou por uma estrada de terra. Achei cedo para isso mas segui as indicações. Felizmente estava em bom estado e não durou mais que uma dezena de quilómetros antes de voltar ao alcatrão.
Passados uns cinquenta quilómetros comecei a subir uma serra com um traçado fantástico e bom piso mas a subida parecia interminável. Quando cheguei ao topo estava a 4.400 metros de altitude e mais uma vez tinha alguma dificuldade em respirar, embora já estivesse mais habituado à situação.
Do cimo da montanha podia ver as nuvens mais em baixo, do outro lado da serra. Quando comecei a descer entrei nesse nevoeiro serrado e, ao passar para a parte de baixo, começou a chover, de início com pouca intensidade mas a deixar a estrada bastante escorregadia. Pelas duas e meia da tarde vi um restaurante à beira da estrada com muito mau aspecto mas, com os pés já encharcados, pareceu-me ter cinco estrelas. Mal entrei aumentou a intensidade da chuva e meia hora depois caiu uma carga de água tropical fortíssima. Tinham-me preparado uma carne estufada no fogão de lenha e pude aquecer-me um pouco depois do almoço, enquanto esperava que a chuvada passasse. Só que, entretanto, eram quase quatro e meia da tarde e não parava de maneira que quando abrandou um pouco arranquei, não fosse chegar à próxima vila, a perto de cem quilómetros, já de noite.
Pelo caminho ia atropelando uma velha Índia, que atravessou a estrada sem olhar e quando toquei a buzina para que parasse desatou a correr na direcção em que eu ia passar. Travei a fundo e não lhe acertei por um triz. Apanhou um susto maior que o meu e desatou a gritar comigo num dialecto indecifrável.
Pelas seis da tarde cheguei à vila de Santa Maria. Bati á porta de dois hotéis mas ninguém me atendeu. Quando estava a montar na moto para procurar outro umas velhas sentadas nos degraus de entrada de  uma casa fizeram-me sinal a dizer que a mulher da mercearia da esquina tinha quartos para alugar. Esta saiu disparada da mercearia e com o ar de que eu não teria alternativa disse-me que a seguisse até uma porta de garagem que abriu e me mandou entrar com a moto pois ainda chovia. Gostei de ver uma moto de enduro parada dentro e os quartos não eram muito maus embora a única casa de banho com água quente fosse no pátio. A sala ao ar livre e com uma decoração com objectos dos anos 50, como um velho capacete e uma telefonia de válvulas, era aberta para o mesmo pátio. Quando, depois de um duche, me pus a ver televisão por a internet não funcionar naquela sala onde só uma fraca luz funcionava, senti uma coisa bater-me na cabeça e depois pousar no chão. Era um morcego. Decidi então sair para jantar no que me indicou a senhora ser o único restaurante decente da vila. Por acaso jantei bem e voltei lá no dia seguinte para o pequeno almoço. 

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