Tinha feito pouco mais de vinte quilómetros quando o GPS do telemóvel, que
levava ligado, me mandou por uma estrada de terra. Achei cedo para isso mas
segui as indicações. Felizmente estava em bom estado e não durou mais que uma
dezena de quilómetros antes de voltar ao alcatrão.
Passados uns cinquenta quilómetros comecei a subir uma serra com um traçado
fantástico e bom piso mas a subida parecia interminável. Quando cheguei ao topo
estava a 4.400 metros de altitude e mais uma vez tinha alguma dificuldade em
respirar, embora já estivesse mais habituado à situação.
Do cimo da montanha podia ver as nuvens mais em baixo, do outro lado da
serra. Quando comecei a descer entrei nesse nevoeiro serrado e, ao passar para
a parte de baixo, começou a chover, de início com pouca intensidade mas a
deixar a estrada bastante escorregadia. Pelas duas e meia da tarde vi um
restaurante à beira da estrada com muito mau aspecto mas, com os pés já
encharcados, pareceu-me ter cinco estrelas. Mal entrei aumentou a intensidade
da chuva e meia hora depois caiu uma carga de água tropical fortíssima.
Tinham-me preparado uma carne estufada no fogão de lenha e pude aquecer-me um
pouco depois do almoço, enquanto esperava que a chuvada passasse. Só que,
entretanto, eram quase quatro e meia da tarde e não parava de maneira que
quando abrandou um pouco arranquei, não fosse chegar à próxima vila, a perto de
cem quilómetros, já de noite.
Pelo caminho ia atropelando uma velha Índia, que atravessou a estrada sem
olhar e quando toquei a buzina para que parasse desatou a correr na direcção em
que eu ia passar. Travei a fundo e não lhe acertei por um triz. Apanhou um
susto maior que o meu e desatou a gritar comigo num dialecto indecifrável.
Pelas seis da tarde cheguei à vila de Santa Maria. Bati á porta de dois
hotéis mas ninguém me atendeu. Quando estava a montar na moto para procurar
outro umas velhas sentadas nos degraus de entrada de uma casa fizeram-me sinal a dizer que a
mulher da mercearia da esquina tinha quartos para alugar. Esta saiu disparada
da mercearia e com o ar de que eu não teria alternativa disse-me que a seguisse
até uma porta de garagem que abriu e me mandou entrar com a moto pois ainda
chovia. Gostei de ver uma moto de enduro parada dentro e os quartos não eram
muito maus embora a única casa de banho com água quente fosse no pátio. A sala
ao ar livre e com uma decoração com objectos dos anos 50, como um velho
capacete e uma telefonia de válvulas, era aberta para o mesmo pátio. Quando,
depois de um duche, me pus a ver televisão por a internet não funcionar naquela
sala onde só uma fraca luz funcionava, senti uma coisa bater-me na cabeça e
depois pousar no chão. Era um morcego. Decidi então sair para jantar no que me
indicou a senhora ser o único restaurante decente da vila. Por acaso jantei bem
e voltei lá no dia seguinte para o pequeno almoço.
Odeio morcegos!! Mesmo!
ResponderEliminarBoa viagem.
Ana