À medida que nos aproximamos de Miami as casas junto à praia vão melhorando
e os passeios e entradas de condomínios têm relva até à estrada, bem cortada,
flores e árvores tropicais. São centenas de casas independentes com jardins do
lado da estrada e praia do outro. Em partes do percurso estas casas estão em
penínsulas e do lado oposto da estrada é também mar, com um cais para cada casa
e imponentes barcos atracados. Nesta costa da Florida há muitas centenas destas
casas que valem certamente bem mais de um milhão de dólares, o que faz dos seus
proprietários milionários e que nos lembra que este é o país com mais
milionários no mundo, com uma grande diferença para os restantes. Mais de 40%
dos milionários mundiais são americanos. E a maioria deles não fez fortuna a
exportar mas a vender os seus produtos internamente, pois deve ser o país no
mundo não só com o maior numero de pessoas da classe média como aquele em que a
classe média tem maior poder de compra. Qualquer coisa que se venda há sempre
uma quantidade enorme de clientes com possibilidades e vontade de a comprar.
Por isso não é de estranhar quando um tipo que montou uma cadeia de venda
de pneus tem uma fortuna avaliada em vários milhares de milhões de dólares, tal
como outro que fundou a cadeia de Moteis de baixo valor “Super 8”.
E como aqui não é vergonha ser-se rico, muito destes milionários passeiam
os seus Rolls, Bentley e Aston Martin pelas ruas de Miami.
Aqui na Florida a temperatura tem estado sempre a cima dos 22º e voltei a
ver motos na estrada, quase todas Harleys, obviamente. Em muitos dos Estados
americanos não é obrigatório o uso do capacete e a maioria destes condutores
das Harleys são cinquentões que circulam, invariavelmente, sem capacete. Não resisti
a sacar da Go Pro que tinha no bolso para filmar um mesmo típico, com botas de
cowboy nas peseiras da frente, quase junto ao guiador, no qual tinha montado a
armação de uma rena. Para além disso tinha uma aparelhagem que se fazia ouvir à
distancia, mesmo se um pouco ofuscada pelo barulho do motor que parecia não ter
silenciadores. Extraordinário.
Pelo caminho parei junto a uma praia onde almocei num balcão virado para o
mar, com um esquilo a fazer-me companhia durante uns cinco minutos, para trás e
para a frente do corrimão, sempre com um olho na minha “Ceasars Salad”. Aqui já
há clima e vegetação tropicais, com pequenos animais a circularem nos locais
com mais árvores.
Quando nos aproximamos de Miami Beach o cenário muda radicalmente e
passamos a ver prédios altos dos dois lados da estrada e muito movimento. A rua
junto à praia parece Albufeira em Agosto com os restaurantes e esplanadas
cheios e meninas a chamarem os clientes na rua. Um inferno. Na estrada que dá
para o canal, do lado oriental há prédios altos sobre a praia e do outro lado
vários cais para iates espampanantes. A diferença é abismal para a outra parte
mais “civilizada”, a Norte de Fort Lauderdale. Aqui é o novo-riquismo que
impera.
Na cidade de Miami, do outro lado do canal continuam os arranha céus mas
“sente-se” menos dinheiro nas ruas.
Fugi para Sul e entrei pelo mar dentro para visitar as Key Islands. É essa
a sensação que temos quando, depois de passarmos uma parte do extremo sul da
Florida, em que a vegetação é luxuriante e voltam as casas baixas e independentes,
começamos a atravessar pontes que nos levam de pequena em pequena ilha durante
mais de 200 Km até Key West, a maior e mais “dentro” do Oceano. É o extremo Sul
dos Estados Unidos. Estamos a menos de cem milhas de Havana, ou seja, mais
perto que de Miami, no Sul do Continente.
Vinha distraidamente a atravessar uma destas ilhas a pouco mais de 100
Km/h, onde o limite de velocidade eram 45 milhas (72 Km/h), quando ultrapassei,
pela direita, uma pick-up que circulava do lado esquerdo da estrada, sem reparar
que era um carro da polícia. O homem acelerou, pôs-se ao meu lado e levantou a
mão e abanou a cabeça com ar zangado como quem diz: “Então”??
Ups, já dei barraca. Fiz um gesto a pedir desculpa e deixei-me ficar para
trás, com ar de menino bem comportado, a
80 Km/h.
Key West é uma ilha muito gira com pequenas casas antigas em madeira muito
bem tratadas e excelentes hotéis no
mesmo estilo. Ainda entrei num Hyatt que tinha um ar chique mas simples para
perguntar o preço de um quarto mas fugi quando a preta gorducha, muito bem
arranjada e pintada, me disse que o mais barato eram 520 dólares.
Acabei por encontrar uma cama, num Hostel, a 44.
Deliciosa a escrita e os relatos que nos fazem sentir como se tb vivêssemos a aventura.
ResponderEliminarObrigado pela partilha e... não pares nunca.
Obrigado, Miguel. Abraço
EliminarEncontrei o seu blog e em 3 serões fiz a viagem pela sua escrita de Lisboa a Miami, espectacular a força a tenacidade e a determinação com que empreendeu esta Volta ao Mundo um exemplo para a malta mais nova que desiste à primeira dificuldade.
ResponderEliminarContinuação de boa viagem e vamo-nos encontrando no seu blog.
Obrigado, Jorge. É sempre bom receber esses incentivos, mas eu considero que não preciso de muita força e tenacidade porque faço isto com enorme prazer. Tem sido uma lição de vida extraordinária pelas culturas tão diferentes que tenho conhecido, mais que pelos locais em si. Abraço
EliminarXico, tiveste alguma sorte em não te terem multado por excesso de velocidade. Como estás no Sul aí devem ser mais brandos e flexíveis. B
ResponderEliminarAndamos sortudos é o que é. Como é o resto do percurso? NY -> Lisboa?
ResponderEliminarBjs
Ana
Agora deixo aqui a moto e vou aí passar o Natal mas regresso em Fevereiro para descer até à Argentina. Depois a ideia é levar a moto de Buenos Aires para Cape Town e, no fim do ano, subir Africa.
EliminarEntão a ver se bebemos um café depois do Natal ou da passagem de ano.
ResponderEliminarEstou desejosa de ler sobre África!
Beijinhos e boa viagem para casa.
Ana