O comboio que
apanhei para Dhaka era muito melhor do que estava à espera. Mesmo não havendo
bilhetes de primeira classe consegui um dos três que tinham na classe AC (ar
condicionado). Era uma cabine daquelas que havia antes nos comboios
portugueses, com dois bancos corridos, em veludo, que nem estavam em mau estado
nem muito sujos e duas camas por cima, para quando a viagem é noturna. Os meus
companheiros de viagem foram um homem que trabalha para uma organização de
ajuda humanitária e um dirigente dos caminhos de ferro que, sendo muçulmano, de
meia em meia hora estendia uma toalha em cima do banco e, descalço, colocava-se
de joelhos em cima da toalha, com um boné redondo na cabeça, a testa quase a
tocar no banco, virado para Meca, que, por mais curvas que o comboio desse parecia
ser sempre na mesma direção, a rezar. Mal acabava, uns cinco minutos depois,
endireitava-se, tirava o chapéu e aí estava ele pronto para mais meia hora de
viagem.
Passadas umas
sete horas, durante as quais nos foi servido o almoço que cada um de nós
encomendou, chegámos à estação de Dhaka.
O da organização
humanitária, por ir para um Hotel perto do meu, partilhou o táxi, ou seja o
“rickshaw” motorizado, que os táxis não aceitaram o dinheiro que queria pagar, mesmo sendo a meias.
Os “rickshaw”
aqui, coisa que nunca tinha visto, têm portas em grade metálica que o condutor
tranca por dentro. Perguntei para que serviam e o meu colega de viagem
explicou-me que passou a ser obrigatório há uns tempos em Dhaka porque havia o
costume de assaltarem os passageiros, muitas vezes com a colaboração do próprio
condutor. Agora este, depois de trancar as nossas portas, deixando-nos presos
naquele mini carro celular, trancou a sua por dentro com um cadeado.
O Hotel era bom
mas de preço europeu.
No dia seguinte
às dez da manhã, conforme combinado, o secretário do Cônsul foi buscar-me ao
Hotel para tentarmos resolver o problema da entrada da moto no Bangladesh.
Expliquei-lhes o assunto, a ele e ao Cônsul, um homem de negócios de sucesso no
Bangladesh e desde então temos estado em reuniões diárias, eu e o secretário,
em diversos organismos oficiais, ainda sem resultados práticos mas que parecem
ir no bom caminho. Este secretário do Cônsul, um homem local, dos seus 60 anos,
mas filho de uma inglesa e de um francês, diz-me optimista: “the difficult
problems, we deal with them straight away, the impossible ones take a little
longer”. E dá uma gargalhada. Vamos lá
ver no que isto dá.
Está difícil começar a rolar com a Crosstourer no Bangladesh. Ao menos já deixou a Índia para trás. O Francisco já devia estar farto até à raiz dos cabelos... Obrigado por nos levar à pendura nesta viagem fantástica. Boa sorte e boas curvas!
ResponderEliminarOlá Francisco. Não estou lá, estou cá, mas depois falamos com um café, um copo, qualquer coisa..
ResponderEliminarQuanto à viagem, muito me surpreendeu o comboio. Sim senhor! Agora de facto o que quero é ler a viagem mas de Honda. Não havia forma de tratar de muita da papelada cá? Só o carnet não? E esse pelos vistos nesses países não vale de nada.
Enfim... boa sorte e continua a ter calma e paciência que eu sei que tem.
Bjs
Ana
Combinado, Ana.
ResponderEliminarNão, aí não se consegue tratar destas coisas. Tem que se estar nos locais. Há fronteiras que se passam sem qualquer problema e outras que envolvem burocracia louca. Eles ainda por cima aqui estão numa fase política muito conturbada, o que complica as coisas. Beijinhos